Em estados menos evoluídos, a confusão entre partido de Governo e Estado é tolerável. Em Portugal, não deveria ser, mas é. Victor Baptista, deputado eleito por Coimbra e candidato à liderança daquela distrital socialista, acusa o chefe de gabinete de Sócrates de várias irregularidades no processo eleitoral, incluindo mesmo um convite à desistência de Baptista, a troco de um cargo numa empresa pública, pago a peso de ouro. O artigo do deputado, publicado no «Diário As Beiras», é elucidativo, denunciando o que conhecemos bem do interior dos partidos nestas alturas: ofertas, ameaças, processos pouco claros no acerto de quotas. Mas o que é mais grave é que, descaradamente, se ofereça a um «camarada» um cargo público, que custa várias dezenas de milhar de euros ao erário público, a troco de uma desistência de umas eleições internas. O PS não é o Estado, e isto diz bem de como somos governados. Pena que os órgãos de comunicação social desvalorizem um acto tão pouco dignificante de uma democracia que se diz evoluída, mas que não passa de um pântano sujo e mal cheiroso, em que nos chafurdamos incansavelmente.
«A tramóia começou muito cedo, contactos, ofertas para escolher um qualquer lugar de gestor público, desde o metro em Lisboa, à CP, ou REFER, até acenavam com a cenoura de 15 mil euros mensais»
(Victor Baptista)