14 de Outubro de 2010 – Leituras sobre Camarate

Francisco Sá Carneiro, pela sua acção e pela forma trágica e obscura como desapareceu, conservará sempre uma auréola muito própria de estadista, uma imagem de seriedade, progressismo e modernidade, que foi, de uma forma ou outra, impedida de vingar e de pugnar por um Portugal melhor. A sua morte, bem como a morte de Adelino Amaro da Costa e dos respectivos colaboradores e familares de ambos, constitui um dos mistérios lusos, que, vemos hoje, não será nunca resolvido. Portugal tem esta propensão para a mitologia sebastianista, e parece que a máxima de que a história se repete é verdadeira. De dois fôlegos, praticamente «devorei» o livro de Inês Serra Lopes, escrito em 1995, sobre o desastre de Camarate. Nele são levantados factos, contradições, depoimentos, afirmações que levam a crer que não se terá tratado de um mero acidente, mas que alguém quereria, deliberadamente, aniquilar os principais pilares da vida política nacional da época (a saber, Sá Carneiro e Amaro da Costa, «cérebros» da AD, e Soares Carneiro, candidato presidencial da coligação). Quando se aventava a possibilidade de concretizar o lema de Sá Carneiro («um governo, uma maioria, um presidente»), tudo desabou, a bordo de um pequeno «Cessna». Sebastianista ou não, a sensação de que Portugal seria bem melhor se isto não tivesse acontecido é enorme. E nunca saberemos quem foram (ou se houve) os responsáveis por tudo isto. Enquanto isso, também nós vamos perdendo altitude, à espera do embate no solo, com ou sem explosão, onde acabaremos carbonizados e sem qualquer fractura, porque não teremos grandes possibilidades de nos libertarmos.

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