Arde. Há uma imensa coluna de fumo, que nos impede de ver o outro lado da vila. Fumo vindo dos fogos florestais, a que, infelizmente, vamos estando mais ou menos habituados. É nestas alturas, como em todas as de verdadeiro aperto, que, desprendidamente, sem hesitar, dando praticamente a vida, surgem os bombeiros. É ao heroísmo destes verdadeiros soldados que se deve o combate ao eterno inimigo (o fogo), o salvamento e apoio às populações, a protecção possível da floresta. Não a políticos, ou a magistrados, ou a jornalistas. É a estes e às populações que vão ajudando (sempre depois de verificarem que a limpeza dos matos é praticamente inexistente, e, à boa maneira portuguesa, apercebem-se disso tarde demais). Custa, depois, ver políticos a prestarem declarações, tal como custa ver a RTP, essa televisão que é paga por todos nós, e que deveria, por isso, exercer uma informação de proximidade, passar 45 minutos de um telejornal a tentar elevar a moral do Primeiro-Ministro, falando do negócio da PT e da «golden share», dando voz à defesa de José Sócrates no caso «Freeport», e muitas outras notícias, quando metade do país (e, curiosamente, mais a norte) está com a atenção centrada na salvação dos seus poucos pertences, ante as labaredas. Entretanto, na zona norte e centro do país,1100 homens abdicaram de tudo, das famílias, de longuíssimas horas sem descanso e ausentes dos empregos, de refeições, de sono, de tudo, para combaterem fogos, ateados não se sabe bem por quem nem porquê. É triste. É triste vermos gente responsável a lançar fumo sobre o trabalho dos bombeiros, numa altura de pânico, de apreensão, de desolação face ao «esventramento» da nossa floresta, que, em Arouca, cobre a grande maioria do território. Esta é, portanto, a hora de, ainda que silenciosamente, reconhecer o trabalho incansável de todos os bombeiros, em especial os nossos, de Arouca, que não têm tido mãos a medir, tentando, no limite das forças, dominar o fogo, desafio que o homem, especialmente no verão, teima em fazer balançar entre a esperteza de quem ateia e as suas catastróficas consequências, com tudo o fica por terra no decurso desse caminho.