A frase ficou célebre dita por Galileu, quando, apesar de a Inquisição o condenar definitivamente, afirmou, convicto que, «apesar de tudo, ela move-se», referindo-se ao movimento de rotação/translação do planeta Terra. Todavia, aqui a frase aplica-se a Manuel Maria Carrilho. Provavelmente o mais emblemático Ministro da Cultura (talvez porque foi o primeiro, dos nossos dias), o homem que conseguiu alavancar o investimento na Cultura para 1% do PIB. Depois foram as lutas pela Câmara de Lisboa, os «fait-divers» da má-educação e do mediático casamento com Bárbara Guimarães. Mas, «eppur si muove». Filósofo de renome no meio académico, seria de espantar que a sua qualidade ficasse resumida às tricas pré-eleitorais numas eleições autárquicas ou ao «cor-de-rosa» das revistas da especialidade.
Hoje, no jornal «Expresso», pode ler-se como Carrilho foi «demolidor» para com os responsáveis da Cultura que militam no seu partido. Em missiva a António Vitorino, presidente da Fundação Res Publica, lamentou o facto de a Cultura estar «cada vez mais invisível, ilegível e incompreensível, ameaçando fazer dos anos 2005/2009 uma legislatura perdida». No entender do ex-Ministro, é necessário relançar-se a discussão sobre a política cultural, com o intuito de a refundar. «A cultura pode dar uma importante contribuição na resposta à crise que o país atravessa». A crise não desculpa «seja o estado de abandono a que a cultura tem sido votada, seja o desinvestimento de que tem sido objecto e que pode provocar – e enfatizo este ponto, uma vez que se trata de uma ameaça real – danos irreversíveis».