Há uns dias, fiz questão de escrever, para não esquecer, letra por letra, as frases que o senhor Ministro da Educação disse acerca da interrupção lectiva. E o que o senhor Ministro disse foi que «Todas as actividades lectivas estão interrompidas durante este período». Ora, hoje, o senhor Primeiro-Ministro disse que «ninguém proibiu ninguém de ter ensino on-line». Assim de repente, isto não é verdade, logo, configura uma mentira. E a mentira é passível de ser altamente criticada. Só que, deu para perceber, pela participação do senhor Primeiro-Ministro no programa ‘Circulatura do Quadrado’, que ele (e, por inerência, o seu Governo) lidam muito mal com a crítica, sobretudo quando é verdadeira e, por conseguinte, contraria a mentira a que, demasiado frequentemente, recorre. As declarações do senhor Ministro da Educação são um facto, assim como são um facto as palavras escritas no comunicado do Conselho de Ministros, que decreta a suspensão das actividades lectivas, não lectivas e formativas. Mentira, portanto. Quanto ao paradoxo. Em tempos não muito pré-pandémicos, a Escola era sistemática e duramente criticada pelo facto de estar a usar os mesmos processos há séculos. Era acusada de estar a caminho de tornar-se obsoleta. Caminhávamos, a passos largos, para começarmos a questionar a pertinência até mesmo da existência da Escola. Havia quem achasse que facilmente a substituiríamos pela tecnologia. Pois bem, um vírus (informático?) fez com que, de repente, tudo mudasse, e ninguém consegue conceber a Escola, hoje, senão no contexto presencial. A aprendizagem fica absolutamente comprometida no on-line. E questiona-se o percurso académico dos alunos afectados por todo este contexto. É um paradoxo interessante. Bem mais interessante do que a mentira.