O Presidente da República desempenhou bem, no Congresso da Associação de Nacional de Municípios, o papel para o qual foi eleito pelos portugueses, ao avisar que regionalizar agora poderá transformar-se num erro irreversível. É profundamente paradoxal que os municípios, que, melhor do que ninguém, deveriam perceber que a regionalização, se feita de qualquer maneira, irá ser-lhes muitíssimo mais prejudicial do que benéfica, insistam em debater algo que não irá, de forma nenhuma, beneficiar aqueles que mais próximos deles estão. É quase uma burrice não perceberem que eles são, de facto, a face mais visível, mais próxima, a melhor face da regionalização, e que, em vez de lutarem por poderem contar com mais verbas para investirem, mais competências para decidirem e mais responsabilidades para gerirem, preferirem embarcar numa discussão estéril sobre mais cargos intermédios, para políticos que não saibam fazer mais nada senão serem políticos, distanciando-se dos cidadãos, em vez de se aproximarem. Numa altura em que se discute e operacionaliza a descentralização, esteve bem Marcelo ao colocar gelo nas euforias de alguns autarcas que talvez estejam a vislumbrar, neste comboio da pseudo-regionalização, mais uma janela de futuro para si, e não uma porta aberta para os seus eleitores.