Daniel Deusdado escreve hoje, no Diário de Notícias, um artigo sobre os matarruanos do interior que impedem o progresso de Portugal. Aliás, pegando no debate sobre a exploração de recursos naturais, rumo à descarbonização, a ideia que fica é que só se lembram do interior quando encontram algo mais para esmifrar. O encerramento de serviços essenciais começou, inevitavelmente, pelo interior. As escolas, idem. Progressivamente, as aldeias e vilas do interior passaram a ser desertos, desses onde, um dia, nem um aeroporto se poderia construir. É do interesse nacional que se esvazie o interior, o que não interessa, o que não existe, por estar fora do horizonte que se alcança a partir de Lisboa. No fim da linha, destrói-se o património natural, e pronto. Eis-nos no Portugal do futuro, do progresso. Da descarbonização. Depois de deitar-se fora esse ‘carvão’ que ficou de um interior completamente ‘queimado’.
João Galamba entrou nisto pelo lado errado e parece incorporar o chip desenvolvimentista de Sócrates, parte II. É pura e simplesmente ridículo atirar a expressão “interesse nacional” para cima de gente sempre ignorada, nos confins do “Portugal de que ninguém quer saber”. Eles nunca foram o “interesse nacional” de ninguém, como se sabe – o interior não tem tribunais, hospitais, correios, as pessoas têm de pagar portagens e alojamentos para irem ao médico ou estudar nos grandes centros, etc.. E agora levam com a destruição das suas casas e dos ecossistemas que protegem em nome do “interesse de Portugal”. Amavelmente, please! É impossível entrar pior num tema tão delicado.
Daniel Deusdado