O debate sobre o financiamento do Estado aos colégios privados prossegue, mas não é essa discussão que importa para aqui. Assim como não importa para aqui o facto de, curiosamente, os proclamados cortes manifestarem uma certa preferência por colégios mais ao centro e a norte do país. Ou perguntar qual o critério utilizado para se chegar ao número de contemplados com os cortes. Nem tão pouco olhar para a coisa com uma visão pacificadora, concluindo que todos têm razão, cada qual a sua. Os pais, porque devem poder escolher a escola dos filhos. O Estado, porque não tem de subverter a iniciativa privada. Ou até mesmo julgar a qualidade do ensino público em comparação com o privado, ou as condições físicas das escolas, de um lado e do outro.
Este debate, mais ou menos pertinente, serviu para voltar a reflectir sobre uma realidade que Arouca conheceu bem de perto, sobretudo até à extensão do ensino público ao Secundário, com a construção do Ciclo (como sempre lhe chamámos) e da Escola Secundária. Até essa altura, esse serviço público, especialmente nesses ciclos de formação, era assegurado por uma instituição chamada Província Portuguesa da Sociedade Salesiana. A presença dos Salesianos em Arouca foi decisivamente marcante, sobretudo entre 1960 e 1982, mas, como toda a boa semente que cai em boa terra, prolongou-se muito para além desse período. Hoje, o Centro Juvenil Salesiano de Arouca assume esse legado, assim como muitos dos que viveram, por dentro, essa forma diferente de estar na educação, na religião e na vida, e que disso mesmo dão testemunho.
Se não houvesse a oportunidade de escolher, se não houvesse quem tomasse a iniciativa de semear uma ideia de educação revolucionária em locais onde não havia nada (quem diz Arouca, diz Mogofores e Poiares da Régua, por exemplo), talvez a oferta pública tardasse ainda mais a correr atrás do prejuízo. Mas também não é esse o ponto que para aqui interessa. Interessa que, no caso concreto dos Salesianos, está uma forma muito própria de encarar a educação. Começando por levá-la precisamente onde não existe, pensando um ensino profissionalizante muito antes dos Estados o fazerem, colocando os jovens no centro do processo, procurando fazer deles bons cristãos e honestos cidadãos, com base na religião, na razão e no amor ao próximo.
Arouca conhece bem de perto esta dinâmica. Sente-a, por dentro. O país, talvez nem tanto. Era esta a acha que fazia falta à fogueira. Pensar-se que, por trás de um número, de um nome, de um espaço físico, está uma forma muito concreta de pensar e agir educativamente. Ignorar isso é reduzir o debate a um grau de ignorância de que não precisamos. Já temos que chegue.