8 de Abril de 2016 – As convenções da música clássica

parodyofbachBaldur Brönniman, maestro titular da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, com quem já tive o prazer de trabalhar, ficou, para mim, conhecido pelo seu sentido prático. Recentemente, descobri o seu site e o seu blog, curiosamente através de um artigo em que manifesta a sua opinião contra algumas das convenções estabelecidas (muitas vezes não sabemos muito bem como nem porquê) no domínio do que costumamos chamar a música «clássica». Brönniman aponta dez coisas que o público devia ter permissão para fazer, durante os concertos, para além de sentar-se calma, tranquila e silenciosamente na plateia. O «mandamento» número um do maestro é que o público deveria poder aplaudir entre os movimentos das obras, contrariando o hábito introduzido por Gustav Mahler, tornando as coisas mais espontâneas e permitindo ao público exprimir-se em relação ao concerto que está a ouvir. Em segundo lugar, diz o maestro que as orquestras não deveriam afinar em palco. O ritual da entrada e afinação acaba por retirar impacto àquele momento mágico que é o início do som que se pretende partilhar. Brönniman é apologista dos telemóveis nas salas de concerto (terceira observação), desde que em modo silencioso. Não para fazer chamadas, mas para permitir, por exemplo, «tweetar», fotografar ou gravar partes do concerto. Se as pessoas pagam bilhete, deveriam ter direito a captar recordações, diz. No quarto «mandamento», o maestro diz que os programas deveriam ser menos previsíveis. Muitas vezes, são os «encores» que prendem as pessoas às cadeiras das plateias. Em quinto lugar, diz Brönnimann que deveríamos poder levar as nossas bebidas para a sala, como nos concertos «pop», num ambiente relaxado. Chegamos ao sexto ponto, em que o maestro diz que os artistas deviam estar mais sintonizados, mais envolvidos, mais comprometidos com o público. Muitos estão, e chegam mesmo a dialogar com a plateia, antes ou durante o concerto. Mas o público deveria poder também deslocar-se ao «backstage» no final dos concertos, conversar com os músicos, partilhar opiniões. Sétimo «mandamento», mais relacionado com o «outfit», Brönnimann acha que o traje das orquestras está fora de moda. «Demasiado século XIX», diz. Em oitavo lugar, o maestro pensa que os concertos deveriam ser mais orientados para o público familiar, permitindo entradas e saídas de pais e crianças, colocando as famílias com filhos pequenos próximas das saídas, por exemplo, bem como a existência de espaços para brincar, conteúdos interactivos, etc. Quase quase a terminar, em nono lugar, Brönnimann acha que as salas de concerto deviam apostar mais na tecnologia para aproximar músicos e público. Ecrãs para mostrarem o que não se vê da plateia, recurso a alterações físicas para melhorar as condições acústicas e disponibilização de conteúdos para «download» são algumas das sugestões, para acrescentar ainda mais criatividade ao trabalho dos artistas. Por fim, o maestro diz que todos os programas deveria conter pelo menos uma peça contemporânea, inesperada, que faça a ligação entre a música «clássica» e o que se produz actualmente, porque a música é uma arte viva. Dez mandamentos em que vale a pena pensar.

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