Os Vândalos, povo (ou conjunto de povos, ou tribos, se quisermos ser mais precisos) cuja origem deve remontar a qualquer coisa como ao século III, algures nos territórios que hoje correspondem à Alemanha, Polónia, Dinamarca, Noruega e Suécia (mais ou menos), marcaram o seu lugar na história com um grande ataque à cidade de Roma, no ano de 455, em que destruíram algumas obras emblemáticas do Império, que ficaram, assim perdidas no nevoeiro dos tempos. Hoje, mais de 1500 anos depois, e à devida escala, continuamos a ter reminiscências da presença destas gentes nas nossas terras. O último fim-de-semana deixou-nos demasiado próximos desses tempos, a que, certamente, ninguém minimamente civilizado deseja voltar.
Continuamos, hoje, a chamar vândalos aos que destroem o que serve o uso público. Adoptámos, para o efeito, o termo «vandalismo». Que mais não significa do que termos todos, os que cumprimos zelosamente os nossos compromissos para com o Estado, de pagar pela destruição do que é de todos por parte de alguns (poucos). Deve ser frustrante. Deve dar vontade de desistir, frequentemente. Quando nos vemos obrigados a fazer os cumpridores pagarem pelos incumpridores. Deve dar vontade de deixar ficar tudo como está. Não melhorar nada. Se destruíram, deixar destruído. Se roubaram, deixar roubado. Porque, de uma maneira ou de outra, quem «ganha» são sempre os vândalos.
Desta vez, os vândalos resolveram pôr fogo à obra mais emblemática dos últimos tempos, os passadiços do rio Paiva. Uma infra-estrutura que começa a ser praticamente consensual, em termos de concepção, embora subsistam algumas dúvidas acerca da sua gestão/manutenção. Mas que, todos acreditamos, irá mudar Arouca (para melhor), porque irá tornar-nos diferentes. Mas os vândalos preferem a mediocridade. Preferem que todos façamos um esforço extra para consertarmos o que estragaram. Com certeza prefeririam que nos mantivéssemos como no século III ou V. Na altura, mutilaram Roma, mas houve muito mais, para além do que destruíram e do que não destruíram, que ficou como legado. Isso, para quem tiver memória e inteligência, não haverá vândalo que destrua.