Não consigo ter, hoje, senão um enorme silêncio. O silêncio que me impuseste. Feito de todas as músicas, possíveis e impossíveis, que fizemos e que não fizemos. O silêncio que prende as vozes, sela as bocas. O silêncio que nos deixa inertes. Que nos questiona como foi possível. Como foi possível que tivesses vivido. Hoje não consigo ter senão saudades. De não ser preciso escrever, ditar, anotar. De ser preciso apenas fazer música. De tudo acontecer como, quando e onde tivesse de acontecer. Sem porquês que não os de fazer acontecer. De forma cristalina. Forte. Segura. Hoje não consigo senão ter um enorme ponto de interrogação à minha frente. Um ponto de interrogação que divide o mundo em antes e depois de ti. Curvado até à exaustão. A interrogar tudo. E a colocar o último ponto na pergunta: o que é que eu faço?