Tropecei num vídeo do maestro Karl Böhm, à frente da Orquestra Filarmónica de Viena. Gesto já curto. Olhar já distante. Algum cansaço a perpassar toda a imagem. Mas o que prendeu o olhar não foi nada disso, que, de tão óbvio, já não teve esse poder. Olhando o infinito, a postura do maestro desfaz-se completamente quando, de forma inesperada, as trompas não entram como deviam. E o pensamento é rápido, e a pergunta simples, embora longa. Por que cargas de água é que, apesar de trabalharmos arduamente para que nada falhe, apesar de atentarmos em cada um dos pormenores para que nada falhe, apesar de exercitarmos todos os dias para que nada falhe, apesar de conhecermos tudo a fundo, para que nada falhe, acaba por ser, muitas vezes, a coisa mais simples que estraga tudo?