Pikena. Quando, um dia, me ofereceste um livro ilustrado com um poema de Fernando Pessoa, nem sabias no que te estavas a meter. Porque, entretanto, o tempo passou, e fazemos contas a isso em números redondos. Eu dez anos, tu sempre pikena. E agora, eu mais dez anos, e tu sempre pikena. Tenho dado por mim a olhar para trás e a verificar que muita coisa aconteceu cedo demais. Peguei-te ao colo cedo demais. Como tu, mesmo achando que não, cresceste num ápice. Lembra-te que não somos do nosso tamanho, mas do tamanho do que vemos. Lembra-te que nenhum rio é maior que o da tua aldeia. E lembra-te, hoje, de outra coisa que te quero deixar. Lembra-te de seres tu a agarrar em ti e a fazeres de ti o que ainda vais ser. Eu sei, porque eu sei-te, que, mesmo sendo pikena, um dia vais ser grande. Vais ser ainda maior. Até lá, ouve bem estas palavras do mesmo Pessoa que um dia me deste. Escuta com atenção. Para já, é a melhor prenda que te posso dar. Cuida-te.
Ode de Ricardo Reis – Nanna Caymmi e Suely Costa