Desde «Aparição», ou até mesmo antes, folheando «Pensar», que resolvi, como aquelas decisões importantes que tomamos em meninos, que queria ser (quase) tão bom como Vergílio Ferreira. Depois, à medida que fui acrescentando mais livros, começou a desenhar-se a conclusão de que nem «quase» seria possível. Lembro-me que até António Lobo Antunes decidiu que queria imitar aquele que considerava o melhor escritor português (o que, na altura, lhe valeu uma palmada, jocosamente relatada numa das suas crónicas). Pois bem, abri ao acaso o primeiro volume da «Conta Corrente», e deparei-me com uma forma interessante de um escritor se questionar. Essencialmente, sobre se tem algo a dizer e se isso vale a pena (dizer e o que se diz). Para chegar à conclusão de que temos é de estar no lugar de onde somos. O resto, diria Ricardo Reis, «é sombra de árvores alheias».
«Vou perdendo o jeito da escrita. Sufocado, de jornais, rádio, TV. Tenho imenso a dizer – e nada tenho a dizer. A valer a pena dizer. É necessário libertar-me disto, voltar à literatura. É a terra de onde sou».
(Vergílio Ferreira – Conta Corrente I)