13 de Novembro de 2013 – Verão de São Martinho

outonoOs meteorologistas não conseguem explicar por que razão o anti-ciclone dos Açores se posiciona, ano após ano, de forma a que, nos dias próximos ao 11 de Novembro, haja sol.  Uns, preferem acreditar no acaso. Outros, talvez se atrevam a explicá-lo com a lenda. Seja como for, o sol aí está, a ajudar a iluminar as cores quentes de Outono, que contrastam com o início do frio das noites de Inverno, que se aproximam.

Há coisas que não têm explicação, mas nem essas, pelo menos as que são boas, nos fazem olhar para o copo meio cheio. Continuamos a preferir responder que vamos andando. Continuamos a preferir expor as nossas pequenas desgraças, quase a competir para o troféu da desgraça mais desgraçada. Continuamos focados no que pensamos que está tão mal, tão mal, que não tem remédio senão ser substituído por algo ainda pior. E, lá fora, apesar do frio, há sol. Há vermelhos, laranjas e castanhos para serem olhados com olhos de ver. Há castanhas para serem assadas nas lareiras do lusco-fusco dos fins de tarde, inícios de noite. Há muita coisa que podemos continuar a fazer. Por nós e pelos outros.

Esta pequena réstia de sol, no meio do frio que deixa as ruas quase a cheirar a Natal, devia, isso sim, fazer-nos pensar em recentrar o nosso olhar. Se virmos bem, as coisas começam a extremar-se. Há cada vez mais ricos e pobres, e menos remediados. Cada vez mais satisfeitos e insatisfeitos, e menos felizes. Cada vez mais preocupados e despreocupados, e menos empenhados. Cada vez mais instalados e desempregados, e menos produtivos. Os antigos diziam que “no meio está a virtude”. No meio-termo, no equilíbrio, na ponderação. Nós, pelo contrário, preferimos ser decididos, e não querermos algo que nem é carne, nem peixe. Nem preto, nem branco. Nem bom, nem mau. Recusamo-nos, assim, a explorar as infinitas possibilidades da paleta de cores que, por exemplo, o Outono nos disponibiliza totalmente de graça.

O Verão de São Martinho podia muito bem convidar-nos a olharmos para o que nos rodeia e vermos onde estamos e onde queremos estar. Para que não voltemos, mais uma vez, a cair naquela caridadezinha simples de quem já está em pleno espírito natalício, de prendas compradas e bacalhau demolhado, com muita pena dos outros, mas preocupado com os lugares à mesa da sua ceia. O Verão de São Martinho, como a lenda nos ensina, é o tempo certo para pensarmos o que queremos fazer com a nossa capa. Se preferimos rasgá-la e reparti-la com quem tem frio, ou se preferimos enrolar-nos nela, de forma egoísta.

Este texto será parte integrante do jornal «Discurso Directo» de 15 de Novembro

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