O Papa resignou. O Papa que não conseguiu arrebatar os fiéis desde o primeiro momento. O Papa que foi preciso conhecer, para deixar entrar. Como quando alguém morre, parece que, agora, toda a gente achava que, de facto, Ratzinger era o homem. Mas ele já não concordava com isso. Pela idade, pela saúde, dirão alguns. Pelos escândalos, pelos interesses instalados na Cúria romana, dirão outros. Por tudo. Talvez por uma Igreja que a sua racionalidade e pensamento demasiado científico não conseguissem acompanhar de perto. Talvez por ser necessária outra força para dar novos rumos a várias coisas. O Papa intelectual, pensador, nem sempre bom comunicador, renunciou. Ninguém esperava. Uns, talvez porque achavam que poderiam, assim, continuar a pôr e dispor. Outros, porque acreditavam na sedução tímida do Papa alemão. Outros, porque acharão que só com a morte se deixa de ser Papa. Joseph Ratzinger teve a coragem e a lucidez de provocar a mudança. De lançar o desafio. De deixar a cada um a interrogação. E agora? A quem iremos?
Caríssimos Irmãos,
convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.
Vaticano, 10 de fevereiro de 2013
(Declaração de resignação de Bento XVI)