Angola pronunciou-se sobre o (des)acordo ortográfico, e supõe-se que, no mínimo, dê para pensarmos um pouco no que não fizeram por nós. Não alinhando freneticamente no frenesim de ratificar, depressa e em força, o (des)acordo ortográfico, o Governo angolano preferiu parar, reflectir e dizer que não «alinha» na «brincadeira» sem ver as contribuições das suas línguas nacionais reconhecidas e sem definir claramente como é que a nova grafia vai ser aplicada no seu sistema educativo. Angola usa, na sua grafia, muitas palavras que começam com dupla consoante (como por exemplo «Mbanza Congo», «Nzinga» e muitas outras), e não quer abdicar desse aspecto da sua identidade, que o (des)acordo ortográfico não prevê. Para os responsáveis angolanos, é essencial que primeiro se acautele o vocabulário nacional, para depois se chegar a um entendimento sobre o que deve ser o vocabulário comum. O documento de entendimento foi assinado em 1990, mas Angola não o ratificou até ao momento, porque, dizem os políticos que tutelam esta matéria, havia «outras prioridades».
«A questão de Angola é uma questão simples. Angola quer ver grafado no acordo aquilo que é contribuição das suas línguas nacionais, à semelhança do que o Brasil fez com o português brasileiro e à semelhança do que Timor também já introduziu. (…) No caso de Angola e Moçambique, que têm nas suas línguas nacionais de origem bantu uma grande contribuição na Língua Portuguesa, são vários os exemplos e, se olharmos agora, não vemos isso reflectido».
(Oliveira Encoge, director do gabinete de apoio à CPLP, do Ministério das Relações Exteriores de Angola, em declarações à agência Lusa)