Pensei, e decidi. Não vou escrever em «acordês», neste espaço. Tenho o direito de não concordar com o estropiamento da minha língua. Tenho o direito de ser contra um (des)acordo negociado na obscuridade dos gabinetes ditos políticos. Tenho o direito de não querer estar dependente de conversores informáticos para escrever o que quero, como os escritores que admiro escreveram. Tenho o direito de ser contra uma mudança feita por decreto e contra-natura, esquecendo a raiz, no latim ou no grego, das nossas palavras. Tenho o direito de ser contra um (des)acordo que não tem em conta que se fala português em Angola, em Moçambique, na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, em São Tomé e até em Timor, que não tem em conta a forma como pronunciamos, a musicalidade portuguesa, e acaba por instalar uma perigosa confusão na ortografia. Há palavras que vamos poder escrever de quatro a trinta e duas maneiras diferentes, todas válidas. Tenho o direito de ser contra um (des)acordo desajustado da maneira como nós falamos a nossa própria língua. Tenho o direito de ser contra uma forma de manusear a minha língua «à vontade do freguês». Tenho o direito de ser contra uma alteração imprudente da identidade do meu país. Por isso, eu, aqui, não vou escrever em «acordês».