Para o bem e para o mal, a cultura está dependente da política. Dificilmente se consegue fazer algo pela cultura em Portugal sem que, para tal, tenha que haver algum apoio (mesmo que ínfimo) de alguma entidade oficial. O problema que isto levanta é o das prioridades. O que é que é prioritário, em termos de preservação e divulgação da cultura? A questão coloca-se de forma pertinente em relação à opção tomada pela Câmara Municipal de Lisboa de reforçar a verba que atribui à Fundação Mário Soares, retirando, em simultâneo, o apoio ao restauro de um belíssimo órgão de tubos que existe na igreja de Santa Catarina. Outra Catarina (Vaz Pinto, por sinal) entendeu que, para além dos 50 mil euros anuais que a autarquia lisboeta dá como apoio àquela Fundação, o subsídio deveria ser reforçado com mais 14.825 euros. A justificação terá sido a do prolongamento, até ao dia 31 de Dezembro, da exposição «A Voz das Vítimas», organizada pelo movimento cívico «Não Apaguem a Memória» e pela fundação de Mário Soares. A função dos políticos, estamos de acordo, é tomar decisões. Podemos concordar ou não com elas, e a isso chamamos democracia. Quanto ao acerto desta decisão, cada um julgará.