O jornalista António Granado denuncia, hoje, no seu blogue, a ponta do «iceberg» que constitui o modo de agir, absolutamente vergonhoso (até mesmo calunioso para a inteligência dos portugueses) de um tal José Pinto de Sousa. Na suposta conferência de imprensa que deu, dando conta do fabuloso acordo que conseguiu com o FMI, o senhor Pinto de Sousa não permitiu que nenhum jornal o fotografasse, nem tão pouco permitiu qualquer questão dos jornalistas. As fotografias que fomos vendo nos jornais de hoje (à excepção das que foram retiradas da emissão televisiva) foram exclusivamente produzidas pelo fotógrafo oficial do senhor Pinto de Sousa. Mais do que isso, alguns jornais chegam mesmo a «travestir» (um verbo caro ao senhor Pinto de Sousa) a fonte da fotografia, dando-a como cedida pela «AFP» ou pela «Lusa». Nenhum jornal, nem nenhum jornalista denunciou a «farsa» que constituiu esta «conferência de imprensa», onde a informação só teve um sentido. O senhor Pinto de Sousa tinha de encontrar forma de apelar ao voto de forma mais ou menos descarada, «vendendo» aos portugueses um acordo que não tem «face oculta». Mas esqueceu-se que talvez nem todos os portugueses sejam tão ignorantes como pensa, porque as medidas da «troika» já são conhecidas. E vão mais longe e mais fundo do que meros foguetes eleitorais. O que vai acontecer em Portugal é uma verdadeira «Perestroika», que quer dizer «reconstrução», «reestruturação», «refundação». O «FMI» passa, de forma subtil e com elevação, um tremendo atestado de incompetência governativa aos políticos portugueses, e apresenta mais de 30 medidas para nos endireitarmos perante o mundo. Numa altura destas, não precisamos de «show-offs» do senhor Pinto de Sousa. Apenas que se reconstrua um país. «Perestroika», senhor Pinto de Sousa…
- Acordo abre porta a subida dos bilhetes dos comboios;
- Equipas especiais de juízes para processos fiscais acima de um milhão de euros;
- Tabaco e automóveis com mais impostos;
- Empresas vão poder pagar menos por horas extraordinárias;
- Acordo impõe aumento da concorrência nas telecomunicações;
- Corte na despesa com Saúde chega a 550 milhões de euros;
- Bancos de horas negociados directamente com trabalhadores;
- «Falsos» trabalhadores independentes passam a ter apoio no desemprego;
- Subsídio de desemprego passa a ser declarado no IRS;
- «Troika» exige cortes na ADSE;
- Despedimento individual por justa causa vai ser ajustado;
- «Golden shares» do Estado são para eliminar até Julho;
- Taxas moderadoras aumentam e atingem mais portugueses;
- «Troika» quer incentivar arrendamento;
- Portugal tem mais tempo para cortar défice mas não evita dois anos de recessão;
- Novo aeroporto sem fundos públicos e TGV Lisboa-Porto suspenso;
- «Troika» quer aumentar IVA na factura da electricidade;
- Menos oito mil funcionários públicos por ano;
- Patrões descontam menos para a segurança social;
- Proprietários de casa serão penalizados com mais IMI;
- Mais cortes na Transtejo e no Metro de Lisboa colocam serviços em risco;
- BPN será vendido até Julho e não tem preço mínimo;
- Governo tem 12 mil milhões para injectar nos bancos;
- Desempregados só vão ter subsídio durante 18 meses;
- TAP, EDP e REN para privatizar na totalidade este ano;
- Redução de pessoal no Estado é para continuar;
- Pensões acima de 1.500 euros vão ser cortadas;
- Acordo não prevê redução de salários nem corte nos subsídios de férias e Natal;
- Troika cobre 100% das necessidades de financiamento em 2011;
- Objectivo do défice para 2011 fixado em 5,9%;
- CGD deve aumentar capital com recursos próprios;
- «Troika» quer definir critérios específicos para extensão de portarias;
- Eliminação de serviços gera poupança de 500 milhões;
- Empresas do Estado têm que poupar 515 milhões de euros.
(As principais medidas, segundo notícia do «Diário Económico»)