21 de Abril de 2011 – António Barreto põe o(s) dedo(s) na(s) ferida(s)

De que forma e por que razão chegámos onde chegámos? De quem é a culpa? Em que ponto estamos? Para onde vamos? Portugal sofre de um mal: os maus políticos. Talvez por isso estejamos a braços com a crise. Mas o Estado somos nós, e cabe-nos, também, dizer uma palavra afirmativa, assertiva, eficaz. A política de trazer por casa tem de terminar, um dia. A política da intriga, do «soundbyte», do mostrar mesmo que não seja verdade, começa a ser irritante. Porque nos fazem passar por asnos. Como quando nos estimulam a não trabalhar, com base no que chamaram de «tradição». António Barreto foi, hoje, entrevistado por Fátima Campos Ferreira, na RTP, no ciclo «Portugal e o Futuro». A obra e as ideias deste sociólogo, pensador da sociedade portuguesa, são relativamente bem conhecidos. Também passou pela política, e, aparentemente, desiludiu-se. Hoje, colocou o dedo a fundo nas feridas. E a «dor» deveria despertar-nos.

«Creio que o Governo e o partido de Governo têm mais responsabilidades. Bastantes mais. São mais abrasivos, mais coléricos, mais furiosos, mais violentos, mais cruéis. Os partidos da oposição, o CDS tem-se portado com alguma contenção, que noto e sublinho. O PSD tem dado sinais de alguma hesitação e de alguma trapalhice na sua movimentação. [Agora,] o maior contributo para esta falta de diálogo vem, evidentemente, do Primeiro-Ministro».

«Em política, para o bem dos outros, as pessoas não têm de falar só com quem gostam. (…) Pede-se para se entenderem, em nome da população, em nome das pessoas que representam. Estão ali, porque receberam umas centenas de milhar ou uns milhões de votos. Eles têm de falar com quem têm na frente. Eles têm de dar o exemplo. (…) Mas eles só dão o mau exemplo, e o mau exemplo é sempre mais fácil de seguir».

«O povo não disse que queria um Governo minoritário. O povo não deu o suficiente a um para ser maioritário. [De todos os que estiveram mal, nessa altura], o pior foi o Primeiro-Ministro, José Sócrates. O pior de todos, porque queria governar sozinho, queria governar em minoria. Este Partido Socialista tem uma predilecção por Governos minoritários. Acha que vai bem assim. Faz uma maioria à esquerda hoje, faz uma maioria à direita amanhã, depois troca, baralha e dá de novo, e tem gosto nisso. Mas isto é quase uma delinquência política. (…) Sempre disse que o Presidente da República devia ter dito que não daria posse a um governo minoritário».

«Não há campo nem agricultura sem agricultores. Fazer agricultura é difícil. Produzir alimentos é difícil. É preciso que haja terra, é preciso que haja água, é preciso que haja saber e experiência. Dizer simplesmente vamos pescar e semear batatas, pode ser fácil de dizer mas é muito difícil de fazer».

«Portugal rendeu-se. (…) O Estado faliu. Faliu financeiramente, ninguém tem dúvidas sobre isso. Está a pedir. Faliu politicamente, porque não soube prever. O Governo não soube prever. O Governo não soube, há dois anos, há três anos, tomar as medidas necessárias para diminuir a fragilidade portuguesa».

«Os chefes partidários deram cabo da vida política e da vida pública portuguesa, nestes dez anos».

(António Barreto, em entrevista a Fátima Campos Ferreira, na RTP)

2 thoughts on “21 de Abril de 2011 – António Barreto põe o(s) dedo(s) na(s) ferida(s)

  1. Mesmo com afirmações destas e de muitos outros analistas portugueses, consta, a dar crédito a certas sondagens, que Sócrates “corre o risco” de ganhar as próximas eleições!
    Mas em que mundo vivem os portugueses? No mundo do circo e da palhaçada?

  2. A verdade é uma ,a atual situação quem é o responsavel…? a C.E E tem responsabelidades ou tem sido os governos portugueses que não tem sabido lidar com bruxelas,que infelizmente tem dado dinheiro para não trabalhar , mas por outro lado os portugueses são tão ignorantes que se esquecem que não vale nada votar porque infelizmente quem tem o poder de decisão são sempre os mesmos ´´e só taxos arranja-se taxos para todos por exemplo ,não ganhou a camara mas ficou com a gestão das autarquias do centro pelo amor de deus como éo povo portugues tem de acreditar nos politicos portugueses não pode …só uma ditadura …………….

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