Tive o grato prazer de entrevistar Carlos Pinho quando estávamos longe de saber que viria a ser presidente do FC Arouca, embora ele admitisse que, um dia, iria sê-lo. Na altura ainda para a «Defesa de Arouca», conversámos em Junho de 2007, na sede da sua empresa, ao tempo ainda por inaugurar oficialmente. O tempo passou, proporcionalmente à sua determinação e à sua proximidade com o sucesso. E, à luz do tempo, é mais fácil entender essa determinação e essa vocação para o sucesso.
«Somos uma empresa sólida»
O objectivo de uma entrevista não é dar lições. Contudo, a principal lição desta entrevista é que para além de um empresário há um homem. Um homem que afirma ter nascido do trabalho. Que não esconde as origens. Que conhece bem o significado da palavra dificuldade. Hoje é um empresário de sucesso, colocado no 1316.º lugar do ranking das PME’s (Pequenas e Médias Empresas). Contudo, não deixa de ajudar quem precisa, que lhe solicita apoio, quem quer trabalhar em prol do concelho onde nasceu, onde trabalha e a quem dedica um carinho muito especial. Leva o nome de Arouca ligado ao da sua empresa. Fala dos filhos como do seu bem mais precioso. Carlos Pinho, o homem, é também uma «empresa sólida». Não esconde as suas paixões. Quer o Futebol Clube de Arouca num patamar maior de competição. E que os seus filhos, com ele, façam crescer ainda mais a sua empresa. Um retrato do empresário. Mas sobretudo, do homem.
Quem é Carlos Pinho, quem é o homem que dá corpo ao empresário?
Nasci em Sá, Santa Eulália, Arouca. Nasci do trabalho. Fui empregado muitos anos e consegui atingir o meu objectivo, estar onde estou. Sou de uma família simples, de nove irmãos, em que fui o único dos nove a conseguir chegar a este objectivo. Com muito esforço, comecei a trabalhar praticamente sozinho, depois com um empregado, dois empregados, trabalhando de manhã à noite, de sol a sol. Daí até hoje o crescimento está à vista. Temos cerca de duzentos empregados, consegui impor este ritmo de trabalho, construir a empresa que tenho. Somos uma empresa sólida. Creio que me tenho esforçado para isso.
A marca da empresa é, hoje, bem conhecida.
Talvez haja gente que não conhece a empresa por dentro. Conhecerá apenas o nome. É uma empresa que cresceu, que já é talvez mais conhecida por gente de fora de Arouca. Ainda há muita gente em Arouca que não nos conhece. Todos os nossos empregados são de Arouca, cerca de duzentos, temos setenta carros na estrada todos os dias. Não quero dizer que não tenho o apoio, o carinho e a amizade das pessoas de Arouca, mas se calhar davam-nos outro valor. Sublinho que não tenho inimigos, mas, a meu ver, somos a maior empresa do concelho no sector da Construção Civil e Obras Públicas. Mas não estamos a trabalhar só em Arouca.
Precisamente. O raio de acção da empresa é bastante vasto, sobretudo no trabalho com Câmaras Municipais.
Trabalho com muitas Câmaras. São João da Madeira, Santa Maria da Feira, Ovar, Matosinhos, Espinho, Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra, Ílhavo, São Pedro do Sul, Castro Daire. É uma empresa que, se falhasse em Arouca, criaria muitas dificuldades a muita gente. Vejamos o caso da Clark’s, onde a mão-de-obra era maioritariamente feminina. Acontece que, no nosso caso, a maioria dos trabalhadores são homens, chefes de família.
Quanto movimenta, em termos de valores?
Não gostaria de falar em valores. Mas posso dizer que somos uma empresa que movimenta milhões de contos, falando em contos. Milhões de euros, se quisermos.
Confirma que a sede da empresa é um edifício que tem valências que muitas empresas do seu ramo não têm?
Ainda não inaugurámos a sede, provavelmente ainda terão de voltar cá novamente. Apesar disso já estamos cá há cerca de um ano, até então estávamos em Sá. Procuramos fazer tudo aqui. Serralharia, mecânica, carpintaria, temos tudo. Assim, concentramos toda a empresa aqui, criando boas condições de trabalho para todos os funcionários nas diversas áreas (administrativa, técnica e produtiva).
A sua paixão pelo futebol, e em particular pelo Futebol Clube de Arouca é conhecida. Quer falar-nos disso?
Toda a gente conhece a minha paixão pelo Futebol Clube de Arouca. É uma paixão que não tem explicação. Estive sempre ligado ao futebol. Já estive na Direcção muitos anos. Agora não estou, mas procuro patrocinar, apoiar, ajudar. O meu sonho é ver o F. C. Arouca na Nacional. Na Terceira Divisão, na Segunda Divisão e por aí adiante. Na Primeira Divisão talvez não, mas não tenho dúvidas de que o Arouca merece estar num escalão nacional.
Sem querer levantar nenhum tipo de polémica, quando veremos Carlos Pinho na Presidência do Clube?
Estive muitos anos na Direcção, mas nunca fui Presidente. Mesmo porque os funcionários com quem trabalho mais directamente não vêem com bons olhos essa hipótese. Dizem-me que já tenho muito trabalho. Mas um dia serei Presidente. Não tão cedo. Talvez daqui a uns anos. Neste momento sinto que devo dedicar-me à empresa.
A sua empresa está responsável pela construção do Estádio Municipal, uma infra-estrutura que se tem revelado muito necessária. Quando pensa ter essa obra concluída?
Creio que no final deste ano as obras estarão concluídas. São as nossas previsões.
Além da sua paixão pelo futebol e do seu apego à terra onde vive, vai mais longe. Gosta de ajudar Arouca sempre que pode.
Sou arouquense, gosto de Arouca, gosto da gente de Arouca. Continuo a ter os meus amigos de sempre, convivo com toda a gente, independentemente de tudo. O Evaristo era um amigo habitual, por exemplo. Ainda me lembro de o ver com os cãezitos junto ao edifício da Caixa Geral de Depósitos. Todos os dias vinha ter comigo ao café, até que, um dia eu lhe disse, ao balcão: «Ó Evaristo, hoje vais tomar um copo de leite e um bolo, pá!». E ele: «Não, não, não!». Ficou-se pelo cafezito. Dava-me bem com ele. Com isto quero dizer que me dou bem com toda a gente. Além de tudo, gosto de ajudar. Sou uma pessoa que pode parecer «esquisita» a muita gente. Mas gosto e ajudar. E ajudo. Procuro fazê-lo discretamente. Muita gente que se aproxima de mim, me fala da situação em que está. Fico revoltado, porque também já passei dificuldades, sei o que é. Nunca faltou de comer e de beber, os meus pais eram lavradores. A minha família, que era do Espingardeiro, também não era de fartura. Procuro ajudar todas as associações e obras sociais que me solicitam apoio, mas procuro também fazê-lo discretamente.
Foi esse seu sentimento por Arouca que o levou a investir aqui e não em outro concelho?
Todo o meu investimento está aqui. É curioso que esta é a primeira entrevista que dou a um órgão de comunicação social arouquense. Há muita gente fora de Arouca que quer saber como funcionamos, porque nos vão conhecendo e vêm ver como funcionamos. Tivemos um crescimento muito acentuado nos últimos dez anos, embora a empresa já exista há quinze/vinte anos. Como é que é possível? Muita gente não está atenta. Mas penso também que a própria Câmara Municipal devia olhar mais para as empresas de Arouca. Não quero de nenhum modo criar polémica, mas entendo que deveria haver um maior apoio. Apoiar moralmente, quanto mais não fosse.
Gostaria de o deixar à vontade para acrescentar o que entender, deixar uma mensagem.
Não tenho muito mais a acrescentar. Creio que já expressei o meu sentimento por Arouca, gosto muito desta terra, sinto-me bem aqui, gosto muito das pessoas. Tenciono continuar a trabalhar e gostaria que os meus filhos continuassem este trabalho. Sinto que eles querem que cresçamos ainda mais, mas temos que ter os pés assentes no chão. Os meus filhos apoiam-me imenso, bem como a minha esposa. Gostaria que a minha filha trabalhasse comigo, como arquitecta. Sinto nela algum entusiasmo. Trabalhar com os meus filhos seria uma alegria para mim.
Um verdadeiro Arouquense apesar do seu exito profissional.
Parabens pelo apoio a Arouca e em especial ao F.C.Arouca.
Constantino Pinho/Tino/Ex jogador do Arouca