Regressa o bulício do trabalho, a rotina diária, os afazeres normais. E há um rastilho de pólvora que arde, em Moçambique. Regressa a irritação, o nervosismo, a pouca vontade de dar resposta rápida a desafios que não queremos ultrapassar. E há um rastilho de pólvora que arde, em Moçambique. Voltamos a ter horários, agenda, compromissos. E há um rastilho de pólvora que arde, em Moçambique. Há um povo que não consegue mais conter-se no espartilho da crise económica, que luta contra a subida exagerada de preços dos bens essenciais, contra a degradação da qualidade de vida. Há uma polícia que tenta estender a política até ao limite da força, para impedir mais tumultos. Há um país que roça o limite da inviabilidade, que luta pela sobrevivência, agarrado ainda à ideia de que tem riqueza suficiente para se sustentar sozinho. E há um rastilho de pólvora que arde, em Moçambique. Parecido, muito parecido com o que muitos estão desejosos de acender em Portugal.