Se não houvesse apoios sociais, os 20% de portugueses pobres teriam a companhia de outros tantos. Na prática, temos 40% de pobres em Portugal. Voltámos a um Portugal resignado, a preto e branco, que em muito faz lembrar «Deus, Pátria e Família», ou os três «F», só que desta vez todos bem condensados num grande «F» de «Futebol». Somos forçados a relegar para segundo plano as nossas expectativas e anseios, aprendendo a considerar felicidade a forma como nos desenrascamos. As conclusões são de um estudo promovido pela TESE – Associação para o Desenvolvimento, coordenado pela Fundação Gulbenkian e pelo Centro de Estudos Territoriais do ISCTE, e dão voz «científica» àquilo que sentimos na pele todos os dias. Àquilo que esbarra nos muros do autismo dos políticos que nos governam, absolutamente distantes, desligados, desinteressados e desdenhosos do povo que os elege.
«Um quinto dos inquiridos tem dificuldades no pagamento das contas da casa, 12 por cento não tem dinheiro para comprar todos os medicamentos de que precisa. Para 21 por cento das famílias-sanduíche a capacidade para suportar despesas inesperadas é inexistente. Mas isto é o que sucede também com 21,5 por cento do total de agregados portugueses. Gente normal, portanto. Como o são também Vera, de 35 anos, e Henrique, de 38, ela com um bacharelato, ele doutorado a viver de bolsas sucessivas e incertas. Vera diz sentir a vida “hipotecada”».
(in jornal «Público»)
«As pessoas silenciam as suas necessidades se não virem condições de as satisfazer, baixam as suas expectativas e acabam por se conciliar com a sua própria vida. Nesse sentido, a sociedade portuguesa embora tenha muitas privações, emerge como uma sociedade relativamente feliz e satisfeita consigo própria».
(Isabel Guerra, uma das autoras do estudo promovido pela TESE, em declarações à «TSF»)