Em poucas horas, o PSD passou de um para três candidatos à liderança, o que constitui um facto político que, facilmente, vai apagar do espaço mediático toda a trapalhada socialista dos últimos dias, contribuindo, assim, decisivamente, para que se deixe de debater coisas incómodas. É um bom serviço que o PSD presta aos socialistas. Pedro Passos Coelho, uma espécie de «produto de marketing», já tinha apresentado a sua candidatura, obedecendo, de forma escrupulosa, à sua agenda comunicacional de «produto». Entretanto, quando Paulo Rangel anunciou a sua apresentação para as 20:00 de hoje, Aguiar-Branco disse pronunciar-se em breve, seguindo a sua agenda de uma «espécie de político profissional», que, sem o rótulo PSD, «não vende». Por fim, Paulo Rangel apresentou candidatura à hora dos telejornais, fazendo uma espécie de síntese entre as formas de estar dos outros dois candidatos, fazendo-se aparecer num estilo preparado, abrangente, «basista» e dirigido directamente aos portugueses, militantes ou não. Rangel tem o «handicap» de fazer lembrar Durão Barroso, que foi saltitando de lugar em lugar, numa ascensão «engraçada» de independente a líder de bancada e a deputado europeu, vencendo umas eleições feitas de candidatos de uma perfeita segunda linha. Uma espécie de produto de marketing, uma espécie de político profissional e uma espécie de Durão Barroso são os três candidatos à liderança do PSD. Quando se esperava que uma verdadeira alternativa a este pântano, na acepção mais perfeita dos dois termos («alternativa» e «pântano»), pudesse dar uma réstea de esperança a Portugal.
«O PSD é o partido da ruptura em Portugal. Foi o PSD que pilotou a ruptura com a tutela militar e assegurou a passagem definitiva para uma democracia tipo ocidental. Foi o PSD que nos libertou da colectivização da economia. (…) Já não é ‘normalizar’ a democracia civil; já não é libertar o país do colectivismo de Estado. É pura e simplesmente a de libertar o futuro. (…) Neste estado de coisas, já não basta mudar, é preciso romper. (…) [A candidatura] não dispõe de exércitos alinhados, nem foi inspirada em almoços ou reuniões com estruturas partidárias ou com personalidades gradas do partido”. “É uma candidatura desprendida, aberta igualmente a todos, porque solitária, que se começa a organizar. (…) A esperança, essa que veio a ser o último direito que os socialistas nos espoliaram. Somos hoje, desgraçadamente, um país sem esperança. Como disse Sá Carneiro. ‘Portugal não pode ser isto e não irá ser isto’. (…) A partir do PSD vamos dar um novo sentido à política em Portugal».
(Paulo Rangel, Eurodeputado, na apresentação da sua candidatura à liderança do PSD)