Muito se escreveu, muito se tem escrito e muito se vai ainda escrever acerca do ante-projecto de regeneração urbana do centro histórico da vila de Arouca. Uma alteração desta natureza colide sempre com a memória e com um certo sentido de identidade (e até mesmo apego) aos espaços que, diariamente, cruzamos, fruimos e usufruimos. É sempre complicado mexer-se com uma realidade adquirida, modernizar um espaço que não é, por natureza, moderno, e, sobretudo, conseguir que essa modernização não agrida ou destrua irremediavelmente o que já existe. É, também, complicado para nós, que vemos, que sentimos estes espaços todos os dias, libertarmo-nos desse olhar quotidiano, conformado e comodista, e verificarmos que, se queremos, como se diz, que Arouca se torne num espaço turístico, temos de nos «desapegar» dos espaços, porque eles não são só nossos. São (e serão) de quem nos visita, à procura de os viver. As soluções propostas são apenas isso mesmo, propostas. E agradar «a gregos e troianos» é algo de totalmente impossível. Contudo, há um risco que se corre: o de, à semelhança do que foi acontecendo com outras «regenerações», fazer aparecer «mais do mesmo», retirando aos espaços que são nossos, e que dizem de nós e sobre nós, a sua impressão digital, o seu carácter, novamente a sua identidade, dando-lhes um aspecto igual a qualquer outro espaço semelhante.
Neste ante-projecto, são propostas alterações ao «arrumo» urbano da Avenida 25 de Abril, do Terreiro de Santa Mafalda (com a reconstrução do antigo portão e muro, a norte), do parque municipal, da Alameda D. Domingos de Pinho Brandão e, finalmente e talvez mais arrojado, ou mesmo polémico, o arranjo da Praça Brandão de Vasconcelos (reproduzido na fotografia acima). As propostas são modernas, vanguardistas, arrojadas. Procuram não deitar por terra essa memória colectiva, antes a adaptam, ou readaptam. Mas uma mudança é sempre uma mudança, e, diz o povo, que «para melhor, ninguém vai». Numa altura em que os recursos não abundam, e em que a oportunidade é que pensemos as coisas com e para o futuro, é imperioso que tudo, mas mesmo tudo, seja ponderado. Sob pena de andarmos, constantemente, a regenerar, fazendo e deitando abaixo, sem pensar no todo, sem pensarm em tudo, sem pensar no passado, no presente e no futuro.
Caro Ivo,
O teu paper é inteligentemente bem escrito, mas não resolve um problema, o da transformação de um sitio sem destruir a sua alma, o seu carácter, o seu estilo e a sua forma. Aliás, como tu bem dizes, o problema da identidade. Que no fundo é uma questão de património, de singularidade e de diversidade. Valores essenciais ao desenvolvimento turístico e económico segundo o modelo de desenvolvimento local de Martinez(2005). Os turistas dependem da nossa singularidade, da nossa biodiversidade, da nossa diversidade cultural e patrimonial.
um abraço amigo do
fmr
Sr. Ivo:
Arrojo? Vanguarda? Com toda a certeza não estamos a ver as mesmas imagens!