16 de Dezembro de 2009 – De avião para Lisboa

red-bullParece que está decidido. O «Red Bull Air Race» vai mesmo realizar-se em Lisboa. Portugal dá, assim, mas um firme testemunho de absoluto provincianismo, pequenês, tacanhês. Lisboa é como um eucalipto. Seca tudo à volta. Lisboa é a América de Portugal. Onde não se sabe de mais nada, a não ser o que se passa… em Lisboa. Onde se vive a absoluta e deliberada ignorância acerca «da aldeia», do «Portugal profundo», que é, ao fim e ao cabo, tudo o resto. E foi essa mesma Lisboa, aparentemente cosmopolita, voltada para o mundo, essa mesma Lisboa europeia, «fashion» e «chic», que deu o pior testemunho possível. O de uma cidade que precisa de rebaixar outras para se afirmar. O de uma cidade que precisa de «roubar» para ter «ouro». O de uma cidade sem identidade. Porque a tem à custa da identidade que não deixa qualquer outra localidade afirmar.

10 thoughts on “16 de Dezembro de 2009 – De avião para Lisboa

  1. Caro Ivo,

    Nunca discordei tanto de um post.
    A competição entre cidades, tal como entre empresas, é uma das características do mundo actual.
    Parece-me que o Porto e Gaia andaram a dormir durante alguma tempo e quando se aperceberam era tarde. O Norte não deve estar à espera que o Estado influiencie decisões. Tem de ser o Norte (quando se conseguir juntar numa voz forte, em vez de defesazinhas de quintas) a ganhar voz.
    Aliás, veja-se que o apoio à iniciativa (pelo que li hoje na transversal no JN) é em Lx + Oeiras de mais de 3 milhões de euros, quando no Norte era de pouco mais de meio milhão.

    • Caro Pedro sousa,

      Nunca discordei tanto de um comentário a um post. E porquê?

      A questão aqui não é meramente concorrencial, até porque não se trata de entidades privadas a concorrer numa economia aberta e “selvagem”. Trata-se, isso sim, de autarquias do mesmo país cujos presidentes deveriam ter, à semelhança do governo da nação, bem afinado o conceito de solidariedade nacional e do todo nacional. E se tivermos um pouco de memória constatamos, infelizmente, que até os fundos comunitários são indevida e escandalosamente desviados para a “capital do império” sem qualquer pudor e em detrimento de regiões, mormente a região Norte, que deles tão é carenciada.
      Desta feita, trata-se de algo similar. Lisboa não teve nem a arte nem o engenho de descobrir iniciativas que lhe dessem visibilidade, projecção e retorno financeiro, ou outro. Limitou-se a “roubar” aquilo que foi a iniciativa e capacidade de outros e fê-lo à custa do poder inerente a uma capital bafejada com os afagos do poder central.
      “iniciativas” deste tipo o País dispensa. Não acrescentam mais valia nenhuma a não ser a deslocalização dos proventos para regiões do País que viviam bem sem elas em detrimento de outras que delas bem precisam.
      Não é provincianismo ( penso eu de que) mas parece-me, e vou acreditar nisso até que me provem o contrário, existir um excesso de proteccionismo do poder em relação à capital e que aí se podem cometer os maiores atropelos ao parco orçamento de estado, aí se podem desbaratar alegremente os dinheiros públicos, que nada se passa.
      Não se pode em nome da mera competição praticar-se actos deste tipo. Não fica bem, não é bonito, não acrescenta nada a não ser espicaçar consciências para a necessidade da regionalização e a, e isto é que é perigoso, a criar clivagens e fundamentalismos regionais.

  2. Caro Ivo
    Também não estou de acordo contigo. Isto é um evento privado e aqui não há nenhum centralismo administrativo. Há uma competição, ou não, entre cidades e o Porto/Gaia perderam. Se Lisboa abdicasse de realizar o evento, parecia mais um acto e pena para com o Porto, não te parece?
    O Rui Rio que deixe de fazer a corrida de automóveis e junte dinheiro para realizar a Red Bull (por exemplo). Bem mas depois falamos melhor pessoalmente e vais me explicar melhor o teu ponto de vista.
    Um abraço

  3. Antes de mais apresento-me porque acho relevante para a interpretação do comentário que se segue.

    Vim parar ao seu blog por curiosidade. Vi o link e como as minhas raízes são de Arouca (Alvarenga), decidi entrar. E em boa hora…

    Eu vivo em Lisboa desde sempre, os meus pais são ambos de Arouca, grande parte da minha família vive no Porto, cidade que eu adoro.
    À anos que a temática Lisboa vs.Porto invade as conversas no seio da minha família.

    Discordo totalmente da sua opinião. Não gosto mesmo do teor “invejoso” com que normalmente se fala sobre tais assuntos, e acho que opiniões destas são o único “testemunho de absoluto provincianismo, pequenês, tacanhês” neste assunto.
    Falam dos fundos comunitários de tudo e mais alguma coisa, mas sem saber o seu background arrisco-me a dizer que se encontra um pouco alheado da realidade.
    Ouvi inclusive as declarações de Luís Filipe Menezes (que não sei se identifica com tais argumentos), a queixar-se do dinheiro gasto no metro de Lisboa como se tal fosse um luxo. A realidade é que a maior concentração de pessoas está exactamente na área metropolitana de Lisboa. E se formos a pensar bem… Têm o dito Metro do Porto que cresceu bem mais em meia dúzia de anos que o de Lisboa desde os primórdios da sua existência. Continuando…
    Você fala de uma Lisboa sem identidade. Creio que se deveria queixar do excesso de identidades. Não é agradável para muita gente, mas é exactamente isso que faz dela a cidade cosmopolita e europeia, como você argumenta (e bem!).
    Por outro lado, essa tal identidade é o que dá todo o encanto que o Porto tem. Preocupem-se sim, no dia em que virem rabelos no Tejo. Proteccionismo seria manter um evento numa região só porque, pobres coitados, dizem que nada mais têm.
    Deixem-se de lamentações e façam por ter uma cidade (região) que seja motivo de orgulho (não o orgulho muitas vezes “sem motivos” a que assisto). Não é agradável, é o que está na base do constante sentimento de provincianismo, mas por outro lado é o que dá o tal encanto das pessoas do “norte”. Há que saber viver com isso…
    Um ultimo conselho, (não dito que seja o caso). Experimentem conhecer o pais que têm.

  4. Caro Samuel,

    Ao que parece vive há bastante tempo em Lisboa e está, conforme dizia o autor deste blog, como os americanos em relação à América.
    Dá conselhos baratos, como conhecer o resto do País, sem saber, aparentemente, do que está a falar. De facto, não sabe o Background dos seus interlocutores e arrisca-se a cometer erros de avaliação muito graves.
    Eu próprio vivi em Lisboa, pra cima de um ano, e sei quando falo de Lisboa, do que estou a falar. Mesmo que tal não tivesse acontecido bastava acompanhar o dia a dia do País através da panóplia de meios de comunicação social ao dispor para se manter informado.
    Fala do Metro do Porto mas não fala, porque não sabe, dos problemas e entraves que as linhas tem tido no decorrer dos anos, dos obstáculos que tem sido vencidos a muito custo ao longo dos anos para que esta seja uma realidade. Não sabe o custo, megalómano e injustificado de determinadas estações do Metro de Lisboa. Não sabe o valor das indemnizações compensatórias que o Estado paga anualmente ao Metro de Lisboa e o valor das mesmas para o Metro do Porto e a relação desse custo por utilizador. Não sabe que o Estado Central quer dar à ANA a gestão do aeroporto Sá Carneiro para viabilizar, centralizando, o novo aeroporto de Alcochete. Não sabe, não sabe e não sabe e, como quem não sabe não se deve arriscar a falar do que…não sabe.
    Pode custar a aceitar mas a realidade é que há Portugueses de 1ª, de 2ª e até de terceira, conforme constataria se vivesse na terra dos seus pais.
    A capital deve merecer um cuidado particular, de acordo, mas não deve ser eucalipto nem factor de desagregação mas sim, ao invés, polarizadora e agregadora.

    Bom Natal

  5. “Fala do Metro do Porto mas não fala, porque não sabe, dos problemas e entraves que as linhas tem tido no decorrer dos anos, dos obstáculos que tem sido vencidos a muito custo ao longo dos anos para que esta seja uma realidade. Não sabe o custo, megalómano e injustificado de determinadas estações do Metro de Lisboa. Não sabe o valor das indemnizações compensatórias que o Estado paga anualmente ao Metro de Lisboa e o valor das mesmas para o Metro do Porto e a relação desse custo por utilizador. Não sabe que o Estado Central quer dar à ANA a gestão do aeroporto Sá Carneiro para viabilizar, centralizando, o novo aeroporto de Alcochete. Não sabe, não sabe e não sabe e, como quem não sabe não se deve arriscar a falar do que…não sabe.”

    A muito custo, mas é ou não uma realidade? A variável custo é medida de formas diferentes atentendo à localização geográfica?!
    E diga-me, se conhece tão bem a realidade – de nós “gringos”, ou se calhar somos até “infiéis” – (e sei bem a que exemplos se refere em relação às determinadas estações de custo megalómano), sabe bem a importância que elas têm na cidade? Tem alguma noção disso? Ou continua a achar que é capricho ter uma linha de metro que tem de passar em parte pelo rio?!
    Já que fala nos aeroportos (parece-me que mais uma vez acha um luxo um novo aeroporto), já precisou alguma vez de os utilizar? Ou sabe ao menos o tráfego a que eles estão sujeitos? Estou seguro que no dia em que conseguir cumprir estes dois requisitos vai mudar a sua maneira de pensar acerca disso. O aeroporto de Sá Carneiro é o melhor na sua categoria. Vá, orgulhe-se lá disso e deixe o resto do pais crescer à medida das suas necessidades também, sem tanta inveja.
    E reitero, os Portugueses de 1ª, 2ª ou 3ª não são porque vivem em Lisboa ou no Porto ou na Madeira. Para além das mentalidades, essa categorização só se aplica aos que coitados, nem sonham em utilizar um avião algum dia.

  6. Apesar de não concordar com os epítetos de “gringos”, “infieis” ou “Mouros” como é uso cá por estas bandas, porque entendo que somos demasiado pequenos para fomentarmos clivagens e radicalizarmos posições, sou, no entanto, forçado a reiterar que não sabe do que fala.
    Quando falo das indemnizações compensatórias falo do valor atribuído vs utilizador, isto é, o valor atribuído pelo Estado em função do numero de utilizadores. Na verdade, o valor atribuído por cada utilizador do Metro de Lisboa é superior ao atribuído ao Metro do Porto. Será pelas sete colinas da cidade? è que outra razão não vislumbro.
    Quanto ao aeroporto de Sá Carneiro é na verdade um bom aeroporto mas a questão não é essa nem nunca o foi. O que o Estado se propunha fazer era colocar uma unica instituição/empresa a gestão dos aeroportos nacionais (ANA) e, eventualmente privatizá-la. Sou radicalmente contra qualquer monopólio, seja ele privado ou publico, a concentração do mercado numa só instituição/empresa gera perigos incontroláveis e dificilmente escrutináveis.
    Parece-me óbvio que se tal vier a acontecer, e porque quem gere procura rentabilizar sem qualquer respeito ou consideração pelo todo nacional ou por qualquer conceito de espaço nacional e/ou solidariedade inter-regional, grande parte das rotas ditas rentáveis serão canalizadas para o novo aeroporto como forma de o rentabilizar. E isto não são fantasmas é, outrossim, uma realidade com que muita gente ilustre se tem preocupado. E até eu já me começo a preocupar pois estou em risco de deixar de ir tomar café a Londres e a Paris por €10.
    Se é daqueles que acha que o novo aeroporto de Lisboa(Alcochete!), a nova travessia do Tejo e a terceira auto-estrada Lisboa Porto são fundamentais para injectarem dinheiro na economia e “criar emprego”, estamos falados.
    Se é daqueles que acha que o País tem condições económico/financeiras para se atirar a essas obras de biliões de euros, estamos falados.
    Se é daqueles que acha que os investimentos em Lisboa são mais reprodutivos do que no resto do País, estamos falados.

    A questão não está nem nunca esteve na inveja. felizmente onde vivo tenho muitíssima mais qualidade de vida do que qualquer alfacinha que viva em Lisboa. Faço 200m para ir trabalhar, 300m para levar a filha à creche, 300m para levar a outra filha à escola, 100m para ir ao supermercado, ao restaurante e ao café, 200m para ir ao Tribunal ou qualquer outra repartição publica, respiro ar puro da montanha, desfruto da beleza da paisagem e tudo isto sem stress. Se me apetece ter algumas das “mordomias “da grande cidade, é como lhe disse atrás, gasto €10 e vou tomar café a convent garden, a Londres, ou beber um “bordeaux” ou um “caubernet savignon” a paris, isto para não referir as vezes que me desloco à mui douta e honrada cidade Invicta.
    meu caro senhor Samuel vai ter que rever a sua noção de “coitado” ou então vai ter que olhar melhor ao seu redor.

  7. Fala muito bem em valores atribuídos e tudo mais no entanto. mais um comentário seu e mais noção tenho que o contacto com a realidade dos temas que tão bem fala, é absolutamente nulo.

    Que continue com os cafés em Londres ou os seus vinhos em Paris. Se essa é a sua realidade, fale sobre ela. E sim, sou claramente a favor do novo aeroporto e da nova ponte, mas jamais da nova autoestrada. Não por motivos económicos mas pela utilidade que ambos terão.
    Quando tiver uma “low cost” que voe para Lisboa aproveite e dê um saltinho. Também se devem tomar bons cafés por lá e sempre terá contacto com a realidade. Aproveite e vá conhecer o metro. Sugiro que se tente deslocar até à margem sul, depois conte a experiência.

    Poderia também entrar com relatórios do Turismo de Portugal que contrapunham rapidamente a sua teoria de serem cidadãos de 2ª, mas não merece a pena visto só existirem olhos para uma coisa.
    Enfim, com isto termino a minha participação neste “blog”. A minha noção de coitado permanece. As mentalidades tramam muito boa gente.

    Ah, ao que parece agora nem vou ter de sair de casa para ver os “vossos” aviões. Que felicidade.. ah não, afinal ninguém lá em baixo quer saber disso.

    Cpts

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