24 de Abril de 2009 – «Música e Revolução», na Casa da Música

musica-revolucaoEste deve ter sido, provavelmente, o concerto mais «improvável» a que assisti. Improvável por várias razões. Primeira, porque na primeira parte surgia Maria de Medeiros, encantadora enquanto actriz mas ainda não muito reconhecida enquanto cantora. Segunda, porque na segunda parte surgia a «Sinfonia» de Luciano Berio, com a Orquestra Nacional do Porto dirigida por Michael Zilm, e com os «Neue Vocalsolisten Stuttgart». Terceira, porque acabei por ter o privilégio de ser convidado pela Casa da Música, e de ficar próximo de pessoas ilustres como Manoel de Oliveira, Nuno Azevedo, o maestro José Luís Borges Coelho, entre muitos outros. Quarta, o absolutamente excêntrico Stéphane Sanseverino. Quinta, porque o conceito de «Revolução» não é propriamente algo que me cative, embora o respeite e até considere justo e necessário.

Na primeira parte, Maria de Medeiros começou quase logo por «dizer ao que vinha». A um trio composto por Pascal Salmon (piano), Ricardo Feijão (baixo) e Edmundo Carneiro (percussão), juntou-se Stéphane Sanseverino (guitarra eléctrica e voz), que acabou por ser quase a estrela da noite. Um verdadeiro «show-man», com uma aparência excêntrica e uma abordagem ao espectáculo completamente «contra o sistema». A «cereja em cima do bolo» acabou por ser uma versão «multinacional» do tema da «Internacional», em que até Michael Zilm cantou, em alemão, a parte que lhe cabia.

Na segunda parte, a «Sinfonia» de Berio transformou-se numa verdadeira torrente avassaladora de som, a que os «Neue Vocalsolisten Stuttgart» deram o toque final, que Berio pretendia. «Oh, King», dedicado a Martin Luther King, que faleceu no ano em que Berio compôs a obra, foi a primeira surpresa. Mas o grande apogeu da obra foi, para mim, o terceiro andamento, em que surgem reminiscências da Sinfonia n.º 2 de Mahler, bem como citações de Debussy, Stravinsky, Ravel e do próprio Berio, com o coro a recitar textos de James Joyce e Samuel Becket, numa torrente de palavras absolutamente fantástica e em perfeita consonância com a música. Michael Zilm, à frente de uma Orquestra Sinfónica do Porto quase irrepreensível, foi garante de qualidade máxima.

dudamelHoje, o «Ípsilon», suplemento cultural do jornal «Público», dedica a capa a Gustavo Dudamel, «o supermaestro», como lhe chama. Nas páginas interiores, é explicada a dinâmica do «sistema», que retira crianças da rua e lhes dá formação musical e um sentido à vida. Textos de leitura obrigatória, aqui.

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