A música é feita do equilíbrio entre som e silêncio. Mas deste silêncio, em concreto, tenho vergonha. Tenho vergonha de ter ficado a saber da morte do maestro José Atalaya através da página do Facebook de Júlio Isidro. Noventa e três anos, praticamente todos dedicados à música e à sua divulgação, à aproximação entre os grandes génios e o comum dos mortais. O texto de Júlio Isidro diz tudo. Começa assim: ‘Morreu, há três dias (três dias, acrescento eu, a sublinhar o espanto) o maestro José Atalaya’, e prossegue, contando um pouco da vida do maestro, que foi uma espécie de Bernstein português, com os seus concertos comentados, muitos deles transmitidos pela RTP. O nascimento da Juventude Musical Portuguesa tem os seus genes, assim como a academia de música com o seu nome, em Fafe. Haverá alguma razão para este esquecimento. Seja ela qual for, não me parece que seja forte o suficiente para, enquanto alguém dedicado à música, não ter vergonha deste silêncio.