Os deputados da Nação aprovaram, à pressa, uma lei absurda. Desde logo, absurda, porque apenas serve os seus próprios interesses, que passam por uma ‘partidocracia’ generalizada, e quanto mais generalizada, melhor. Depois, absurda, porque a sua aplicabilidade é ridiculamente difícil, para não dizer impossível. Os primeiros 15 minutos do último programa da ‘Circulatura do Quadrado’, que o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, fez questão de partilhar na sua página do Facebook, são do mais sumarento que há. Se, há dias, Rui Rio tinha dado um tiro no pé, ao falar sobre um hipotético adiamento das eleições autárquicas, verificamos, agora, que, afinal, o mesmo tiro acertou nos dois pés. A discriminação, ou, para sermos mais claros, o bloqueio total à possibilidade de candidaturas independentes, está previsto na Lei, desde o Verão passado. À porta fechada, e no maior secretismo possível, os dois maiores partidos portugueses negociaram e aprovaram uma legislação que, não fosse alguém queixar-se, iria ter consequências absolutamente nefastas para a vida democrática portuguesa. Os partidos teimam em não ver que é localmente que se faz a verdadeira política, e, localmente, as pessoas lidam com pessoas, não com siglas ou símbolos. Obrigar os movimentos independentes a multiplicar o número de assinaturas para oficializar cada uma das freguesias ou órgãos autárquicos a que se candidatam, impedir estes movimentos de manterem o seu símbolo nos diversos boletins de voto e, a cereja no topo do bolo, isentar os partidos de IVA, ao passo que os independentes têm de arcar com a sua totalidade, são só alguns dos absurdos aprovados. Na mesma ‘Circulatura’, Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS, reconheceu que é imperioso alterar a lei, e que tudo será feito para que tal aconteça. O que é ridículo é percebermos o tamanho da asneira que os deputados, eleitos e pagos por todos nós, fizeram. E é lícito pensar que, como esta, farão muitas outras, todos os dias.