Dizia o poeta António Machado, que o caminho se faz ao andar, ‘golpe a golpe, verso a verso’. Os caminhos são isso mesmo. Sem os nossos passos, são apenas espaço. Mas só com o nosso caminhar ganham sentido. Se António Machado dizia no poema nunca ter perseguido a glória, também eu nunca havia sentido a vontade de seguir pelos Caminhos de Santiago. E foi a vida, com as suas interrogações e porquês agudos, ou talvez Deus, que pôs a pergunta fundamental (já com resposta dada) nas palavras do Rev. Pe. José Joaquim Ribeiro, grande amigo de (já) longa data. Sem saber como nem porquê, a resposta (à não pergunta) foi imediata. Eis-me aqui. Mesmo sem preparação alguma, sem sentir a mística do caminho, mesmo sem chamamento que não o daquele momento. E fui. Como a personagem de Robert de Niro no filme ‘A Missão’, com as armaduras da vida presas ao corpo. Percebendo que o caminho se faz, de facto, com um passo após o outro, etapa após etapa, palavra após palavra no final de cada dia. No encontro connosco e com o outro. No terminar cada etapa. No chegar a um destino. E se na decisão tocou um sino, outro tocava à chegada a Santiago de Compostela. E vieram as chuvas e os ventos, mas a casa não caiu. Talvez porque, mesmo que não parecesse, mesmo com a dureza do caminho, verificamos que é possível estar assente nessa rocha firme. A mesma que calcorreámos até ao destino.
Escrevi este texto a 30 de Janeiro de 2018, depois de ter feito o Caminho Sanabres, com o meu amigo Pe. José Joaquim e o seu fantástico grupo de caminhantes. Na altura, fomos contando o que ia acontecendo aqui. Relembro-o hoje, depois de ter visto o primeiro episódio da série ‘3 Caminos’, da Amazon Prime, com co-produção da RTP. Quem já fez o Caminho, recordará e encontrará algo novo ao recordar o caminho que fez. Quem não fez, ficará com vontade de fazer e de sentir na pele o que ali se vê. E muito mais.