Curiosamente, ou talvez não, os políticos resolveram aprovar a eutanásia, o suicídio medicamente assistido, numa altura em que morre um avião cheio de portugueses a cada dia. Sem debate. Sem consulta popular. Sem profundidade. Apenas assim. Discute-se pela rama no Parlamento, mistura-se uma certa dose de hipocrisia e demagogia, ‘et voilá’. Já somos um país moderno. Curiosamente, ou também talvez não, isto acontece numa altura em que veio ao de cima, da forma mais gritante, mais cortante, mais desumana, o profundo desinvestimento que o Estado vem fazendo nos serviços de saúde, e muito em concreto no domínio dos cuidados continuados e paliativos (um dos sectores onde mais infectados têm surgido). Curiosamente, ou talvez não, assistimos a uma estranha pressa em aprovar uma lei em relação à qual, contrariamente, por exemplo, com o que acontece sempre que se fala em regionalização, se acha que não é preciso ouvir o povo. E volta sempre a conversa sobre os portugueses que têm de ir a países onde a eutanásia é legal para a conseguirem. Esquecendo que, por exemplo, na Suíça, a clínica “Dignitas”, terá acolhido e ‘tratado’, entre 2008 e 2020, cerca de 2100 pessoas. Destes 2100, apenas 20 serão portugueses. Números, são números. E pessoas não são números. Curiosamente, ou talvez não, discute-se a vacinação dos políticos. Ao mesmo tempo. É preciso ter cuidado. Sabendo do nível de competência dos nossos representantes, poderá dar-se o caso de trocarem as substâncias. E tornar esta confusão entre eutanásia e vacinação ainda maior. No fim de contas, a vida é sempre preferível à morte. E ver um título de jornal começar por ‘Morte’, não é lá muito agradável.