Quando um maestro chega a um pódio, vive a tensão de vários paradoxos. Ele está sozinho, numa altura em que está rodeado de gente. Ele tem claro, na sua mente, o som que quer produzir, mas ainda não sabe como (e se) irá resultar. Ele está em frente ao instrumento mais completo e complexo que existe, mas o que habita o espaço é o silêncio. Depois, vai moldando, com o gesto, a música que quer fazer surgir. O som a que chegou, depois de estudar meticulosamente a partitura em que o compositor deixou escrito o que quer que se ouça, e de descobrir, nas entrelinhas, o que o compositor não escreveu, mas que a música irá encarregar-se de fazer acontecer. Hoje é o corolário de um período relativamente curto (mas muito rico) de formação, em que, ainda que sem pódio e com um grupo mais pequeno de músicos, moldaremos o som, e tornaremos realidade o que alguns compositores deixaram (e, em alguns casos, não deixaram) escrito. Lembro, frequentemente, a melhor definição de música de que já ouvi falar, escrita numa resposta a um teste de formação musical. ‘A música é boa’. Mais nada.