Há nove meses, inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras assassinaram um cidadão ucraniano, no aeroporto de Lisboa. Durante nove meses, o Sr. Cabrita, que é quem manda nas polícias de um país, diz que disse algumas coisas, mas as algumas coisas que disse não disseram nada, e o assunto parecia esquecido. Parecia, até deixar de estar. Alguém resolveu fazer contas e começar a puxar a ponta do novelo das responsabilidades. Demitida a directora do SEF, os pontos de interrogação começaram a ficar maiores em relação às condições que o Sr. Cabrita teria para continuar a ser a pessoa que manda nas polícias de um país. Perante o crescimento dos pontos de interrogação, o Sr. Cabrita resolveu organizar uma espécie de ‘drink’ de fim de tarde, para passear o seu sarcasmo, a sua altivez, a sua falta de humildade e a sua má educação. Tudo coisas a que já foi habituando os habitantes de um país onde é a pessoa que manda nas polícias. Anunciou que ia criar um botão de pânico e deu as boas-vindas às pessoas ao seu país, mas esqueceu-se de que as pessoas que resolveu atacar vivem num país diferente daquele onde o Sr. Cabrita é a pessoa que manda nas polícias. O Sr. Cabrita, quando ainda era deputado, protagonizou uma triste cena com o então Secretário de Estado Paulo Núncio. O Sr. Cabrita combateu o fogo que consumiu as golas, no seu Ministério, com uma espécie de contra-fogo, o que faz dele um incendiário. O Sr. Cabrita assobiou para o lado quando o confrontaram com a chegada frequente de migrantes ilegais à costa do Algarve. O Sr. Cabrita ignorou a forma desordeira como os refugiados, que o país em que manda nas polícias acolheu, se comportam nos chamados centros de acolhimento. E, como se não bastasse, o Sr. Cabrita ignorou um assassinato, um atentado contra os Direitos Humanos, de que se gaba, agora, de ser um defensor nato. No mundo em que o Sr. Cabrita (não) vive, e em que é a pessoa que (não) manda nas polícias do país em que vive, houve uns meliantes que, pela segunda vez, partiram o vidro do meu carro e andaram a remexer nas minhas coisas. Portanto, as polícias em que o Sr. Cabrita diz que manda, não estão a trabalhar como deve ser. É por isso, e só por isso, não pelas execráveis tropelias que o Sr. Cabrita já fez, que eu acho que ele já não tem condições para ser Ministro. Sr. Cabrita, bem-vindo ao mundo real. Alegue, por favor, que se demite porque o meu carro foi assaltado duas vezes este ano. É uma boa forma de ir-se embora, ‘swiftly and with style’.