Algum tempo depois de terminar o meu curso, tive o privilégio de estagiar, ainda que por um breve período de tempo, na TSF Rádio Notícias. Não foi tempo suficiente para nada, excepto para aprender muito, tudo o que sei sobre rádio, e ainda umas coisas mais. Desses tempos, lembro-me que, quando chegava à redacção de manhã, o Joaquim Pedro tinha uma espécie de ritual religioso, ao qual me converti com relativa facilidade. O Pedro ouvia, religiosamente, os ‘Sinais’, a crónica do Fernando Alves, quase sempre antes de ela ir para o ar. Para ele, aquela audição era como que a aprendizagem diária do que ainda faltava aprender. E era verdade, naquele tempo como hoje. Em viagem, é como se o carro parasse, para ouvir, para pesar, para sorver cada palavra do Fernando Alves. Hoje, tecendo uma textura a partir da breve oração solitária do Papa junto do monumento a Maria, na praça de Espanha, em Roma. Uma estátua da Virgem, com o pé sobre a serpente, colocada em cima de uma coluna vinda dos achados arqueológicos da cidade. Um monumento erguido pelos bombeiros de Roma, que todos os anos, a 8 de Dezembro, elevam a grua, e fazem com que Maria fique a segurar um ramo de rosas brancas. O tear de palavras continua, e chega a Atahualpa Yupanqui, compatriota do Papa Francisco, e à sua canção ‘Para rezar en la noche’. «É sobre o homem que caminha pelo mundo. O homem que nada tem, salvo a guitarra. É com ela que reza nas noites frias», diz Fernando Alves. Um homem que caminha pelo mundo, sozinho, sem nada a não ser o que o ajuda a rezar. Como o papa. A quem só faltou a guitarra, mas nem por isso o condão de nos questionarmos. Aposto que o Pedro ouviu de coração aberto o tecer das palavras de Fernando Alves, e, naqueles breves momentos, talvez tenha rezado.