6 de Dezembro de 2020 – O que temos é inveja uns dos outros

Lembro-me, hoje, de um livrinho, bem açucarado, nas palavras e nas ideias, de Zuenir Ventura, sobre a inveja. Dizia Zuenir, logo no título, que se trata de um ‘mal secreto’. Para além de mal secreto, é pecado mortal, dizem. Algures no processo da destilaria das redes sociais, leio qualquer coisa parecida com uma ideia de que o que todos temos é inveja. Se os empresários da restauração protestam, porque estão economicamente com a corda ao pescoço, imediatamente temos inveja do carro que conduzem, ou da casa que têm, porque cobram muito dinheiro pelos seus cozinhados com assinatura. Se um cantor famoso perde uma filha, relativizamos a dor, porque é rico, e facilmente se distrairá. Além disso, os acidentes por excesso de velocidade, para alguns, só acontecem a quem tem carros de alta cilindrada, coisa ao alcance de privilegiados. É feio termos inveja, porque é algo que não tem rigorosamente nada a ver connosco, e tudo a ver com os outros. Nós não temos, e não queremos que os outros tenham. Mesmo que o que aparentam seja fruto de trabalho árduo, ou anos de formação e prática. É capaz de ser verdade. Não temos ciúmes, não temos cobiça Temos inveja.

Ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é querer que o outro não tenha

‘Inveja’ (Zuenir Ventura)

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