Vamos muito mal quando não somos capazes de rir-nos de nós próprios. Talvez seja, precisamente, aqui que começa o (bom) sentido de humor. O Brasil resolveu ater-se a uma árvore, em vez de rir da e com a floresta. O colectivo humorístico ‘Porta dos Fundos’ produziu e realizou, para a Netflix, um especial de Natal, com o título ‘A primeira tentação de Cristo’. E quem vê o pequeno filme, sem o pré-conceito que as muitas reportagens televisivas sobre o assunto nos venderam, pouca importância dá ao facto de a personagem de Jesus Cristo ser ou não ser, ou não ter a certeza de ser ou não, gay. Ou de Deus, Maria e José terem uma relação ‘aberta’. A caricatura, o humor, vive (vivem) do exagero. E podemos atingir esse exagero com mais ou menos refinamento, mas cada um pode (e deve) ser capaz de olhar criticamente para as coisas, e formular o seu juízo. Tal como rirmos de nós próprios é (deve ser) um acto profundamente individual.