À medida que o Natal se vai aproximando, começamos a encarar as coisas de forma diferente. A proximidade do final do ano leva-nos a fazer balanços e projectos para o futuro. A proximidade da família faz com que sintamos as coisas de outra forma, com quantidades diferentes de fraternidade, de alegria, de solidariedade. Até o frio do Inverno faz com que respiremos um ar diferente, e há aromas que se nos entranham na memória e ficam, para sempre, associados a esta quadra.
Consumismos à parte, o Natal deste ano vem temperado, no que à política diz respeito, com uma pseudo-discussão sobre uma pseudo-regionalização que passou a estar na agenda não se sabe bem porquê. Como vem sendo costume português, as reformas ditas sérias nunca são pensadas a partir de uma necessidade sentida pelas pessoas, ou num contexto de proximidade. Primeiro decreta-se, e depois vê-se. No caso da regionalização, o debate contrasta claramente com o contexto local, em que vemos Juntas de Freguesia a reclamarem competências, Câmaras Municipais a negociarem com o Governo sobre o que querem gerir e, sobretudo, dinâmicas locais que marcam a diferença, num equilíbrio entre proximidade com os cidadãos e afirmação no contexto regional e até nacional. Arouca é, claramente, um exemplo disso. Se olharmos bem para o caminho percorrido, verificamos que a ‘marca’ foi criada, ou deixada, se quisermos, partindo das dinâmicas locais, gerando uma profunda identificação com os arouquenses, que hoje, muito mais do que há alguns anos, se orgulham das suas origens. Essa ‘marca’ não é compatível com ‘coligações’ regionais, e não pode (nem deve) ser submetida a qualquer tipo de gestão intermédia da qual possa vir a ficar dependente. Além disso, a proximidade aos arouquenses e o seu envolvimento na construção de propostas, nos processos de decisão e até mesmo na produção de eventos foi algo que foi sendo cada vez mais cultivado, sendo hoje um activo de que não se pode (nem se deve) abdicar. Isto para não falar das possibilidades que se abrem em termos de teias de interesses, favorecimentos ou desfavorecimentos decididos a partir de afinidades políticas, ou, simplesmente, a criação de cargos que apenas servirão de prateleira ou trampolim para políticos profissionais.
Outra das coisas que assusta, para além destes ímpetos reformistas desfasados da realidade, é a tremenda limitação de horizontes, no que diz respeito ao alcance das medias que possam ser tomadas. Os políticos portugueses, em geral, têm uma tremenda dificuldade em pensarem medidas que ultrapassem o médio prazo dos mandatos para os quais são eleitos. Qualquer político que se preze começa, depois de eleito, por destruir completamente o que foi feito antes, para que possa, enfim, deixar a sua pegada. Depois, tratará de implementar as medidas necessárias à sua reeleição. Por fim, poderá pensar em anunciar uma ou outra medida de longo prazo, já contando que, quem venha depois de si, irá reverter ou alterar, para mudar a forma da pegada. Em Arouca, felizmente, não tem sido assim. Independentemente das opções (sempre questionáveis), encontramos alguma dimensão estratégica nas decisões tomadas, e mesmo que nem tudo corra como gostaríamos, verificamos que houve um percurso feito e alguns (bastantes, podemos concordar) frutos colhidos. Enquanto isso, a Oposição baseia a sua acção numa colecção de ‘reparos’, limita-se a criticar a estratégia e sente-se confortável ao não apresentar qualquer tipo de visão alternativa a longo, médio e, por vezes, até curto prazo. Agora, que a quadra natalícia se vai aproximando, e um novo ano (com vida nova?) se aproxima, talvez seja hora de fazer os tais balanços e rever projectos futuros. Porque, mais do que fazer caminho, é preciso caminhar com rumo.