No mesmo dia em que o Jornal de Notícias faz manchete com o abandono da ferrovia, por parte do Governo, a TSF conta-nos que o mesmo Governo quer uma fábrica gigante de hidrogénio, alimentada por energia solar. Assim de repente, numa comparação manhosa, faz lembrar alguém que resolve comprar um Ferrari, mas não tem dinheiro para a gasolina. É consensual que o investimento no transporte ferroviário é estrutural. Mas não está na moda. Energias alternativas, sim. Lembro-me bem do martírio que foi decorar (para rapidamente esquecer) as várias linhas de caminho-de-ferro, com estações que pareciam não terminar, até podermos dizer, aliviados, ‘segue para Espanha’. Hoje, talvez mais de dois terços dessas estações e apeadeiros já não funcionam, ou até deixaram mesmo de existir. Já ouvimos várias promessas de que agora é que ia ser, voltarmos a ter uma rede ferroviária digna desse nome. Mas não, ainda não é desta. O importante é descarbonizar a todo o custo, transitarmos para carros eléctricos mesmo sem querermos, sermos verdes, mesmo que sejamos daltónicos ou não gostemos da cor. Como acontece com o lítio, que, de repente, passou a ser obrigatório explorarmos, sob pena de irmos todos parar ao inferno, se não o fizermos. Estas duas notícias dizem-nos muitas coisas. Agora, é preciso pensarmos nelas.