O Papa tem o dom de conseguir economizar palavras, valorizando-as. Hoje, na sua homilia, centrou-se, muito rapidamente, mas com grande sabedoria, em três palavras, retiradas das leituras do dia: o substantivo ‘monte’; o verbo ‘subir’; o pronome ‘todos’. É interessante a relação que temos com os montes. A quantidade de pequenos templos que foram sendo construídos no cimo de montes, pela proximidade com o divino que a altitude proporciona. O cimo do monte é um local de encontro, primeiro connosco mesmos, depois com tudo o que vemos. É um local eleito pelos homens, desde sempre, para esse encontro. O monte da Galieia, o Tabor, o monte das Oliveiras ou o Sinai. Mas, como diz Francisco, para chegar ao cimo, é preciso subir. Desprendidos de bagagens ou coisas inúteis. Somos verticais, para podermos olhar para cima, e é para cima que devemos caminhar, orientar o olhar, aspirar às coisas que estão mais altas. Depois, é preciso descermos, para sermos com todos. Não somos apenas indivíduos, mas seres de encontros (e desencontros, também). Somos seres em movimento, no agir e no pensar, não apenas para alguns, mas para todos. De e para todos. Todos os povos, todas as nações, todos os homens. Também assim, em economia de palavras. Mas não de acções.
O monte leva-nos para o alto, longe de tantas coisas materiais que passam; convida-nos a redescobrir o essencial, o que permanece (…). A missão começa no monte: ali se descobre aquilo que conta. (…) Para mim, o que é que conta na vida? Quais são as altitudes para onde vou?
Para isso, porém, é preciso subir: é preciso deixar uma vida horizontal, lutar contra a força de gravidade do egoísmo, realizar um êxodo do próprio eu. Por isso, subir requer esforço, mas é a única maneira para ver tudo melhor, como o panorama mais bonito ao escalar a montanha só se vê no cimo.
[Deus] sabe que somos teimosos a repetir ‘meu’ e ‘nosso’: as minhas coisas, a nossa nação, a nossa comunidade. Ele não Se cansa de repetir ‘todos’. Todos, porque ninguém está excluído do seu coração, da sua salvação; todos, para que o nosso coração ultrapasse as alfândegas humanas, os particularismos baseados nos egoísmos que não agradam a Deus. Todos, porque cada qual é um tesouro precioso, e o sentido da vida é dar aos outros este tesouro. Eis a missão: subir ao monte para rezar por todos, e descer do monte para se doar a todos.
Papa Francisco – homilia de 20 de Outubro