Quatro anos depois de umas eleições que deram origem a um Governo formado por um partido que as perdeu, os portugueses foram chamados a votar, novamente. Após uma campanha eleito-ral prolongada, com temas explorados quase até à exaustão e outros completamente esquecidos, o Partido Socialista venceu, desta vez, ainda que sem a maioria absoluta que nunca assumiu to-talmente se queria ou não. Logo começaram as contas à mão, para se perceber que geringonças seriam possíveis, que maiorias poderiam alcançar-se, que cenários poderiam prever-se, até por-que o espectro político mudou bastante. Alguns “pequenos partidos” conseguiram eleger deputa-dos, o CDS eclipsou-se, voltando a ser “partido do táxi”, e o PAN cresceu (uma espécie de “par-tido do Uber”). E, com tudo isto, à hora que o leitor estiver a procurar as novidades no “Roda Viva”, os contactos e os debates sobre o futuro ainda decorrerão. A começar, desde logo, pela li-derança do PSD, algo que vai sendo habitual, sobre os restos de eleições não ganhas. Em Arouca, venceu o PSD. Até aqui, tudo normal. Contudo, os resultados eleitorais podem dizer-nos outras coisas, dependendo sempre do ponto de vista que elejamos. Um facto, desde logo, é o crescimento do PS, para os 31%, o que pode considerar-se um excelente resultado, tendo em conta o histórico de vitórias dos sociais-democratas. O CDS, seguindo a tendência nacional, teve uma quebra grande, não indo além dos 8%. Mas o que mais chama a atenção é a diminuição de votos no PSD, que alcançou pouco mais de 40%, quando, há quatro anos, com Passos Coelho e o fantasma da austeridade, chegou, em coligação, aos 60%.
Há coisas que são objectivas, desde logo que o PSD ganhou em Arouca. É uma tendência natu-ral, e é um facto que praticamente não é preciso haver uma campanha eleitoral muito activa para que, em eleições nacionais, ela se cumpra. Outro facto, é que as circunstâncias em que decorrem as eleições nunca são as mesmas, sobretudo no que diz respeito à conjuntura e ao cenário polí-tico, este ano, em particular, quanto ao número de forças em quem era possível votar. Daí que as comparações possam ser perigosas. Outro facto, é que o número de eleitores não flutuou muito, quer no número de inscritos, quer no número de votantes.
Enquadrados por este cenário, é relativamente óbvio que os arouquenses acabaram por dar um recado subliminar ao PSD. Que é preciso ter cautela, porque as coisas podem mudar, também a nível nacional e em eleições nacionais, e, eventualmente, podem não mudar a nível local. Arouca tem seguido, de forma muito regular nas últimas décadas, a tendência de dar grandes vitórias ao PSD em eleições nacionais, mas grandes vitórias, também, ao PS em eleições autárquicas. Olhando para os resultados nacionais, e tendo em conta a evolução das circunstâncias, é difícil aferir se Rui Rio alcançou a pior derrota de sempre ou se conseguiu uma trajectória ascendente que, no início do seu mandato, parecia impensável. Todavia, a mensagem que os responsáveis do PSD em Arouca devem ler é a de que talvez seja hora de mudar de estratégia, de discurso, de forma de diálogo, tanto no plano interno como com a “sociedade civil”. Faltam dois anos para as autárquicas, e Arouca precisa de um PSD “à moda antiga”. Mobilizador, credível, assertivo. Mas haverá, certamente, gente nas estruturas capaz de ler, muito melhor do que eu, este recado subli-minar. Porque talvez o segredo seja ir mudando localmente, mais do que procurar um líder, que poderá voltar a estar a prazo.
Texto publicado na edição de Outubro do jornal ‘Roda Viva’