17 de Setembro de 2019 – Estranha forma de morrer

Há cerca de 10 dias, uma religiosa foi assassinada em São João da Madeira. A notícia foi dada, mas parece não ter tido o eco que muitos esperariam. Sinal de que talvez este (como qualquer outro) tipo de crime está a banalizar-se, ao ponto de deixar de ter eco, de gerar debate, de causar indignação, de provocar consequências. Talvez se a Irmã Antónia fosse negra, trans-sexual ou pertencesse a alguma minoria com poder de ‘lobby’ suficiente, lhe prestassem a atenção que merecia. Mas não. A Irmã Antónia pagou o preço da radicalidade em que sempre viveu. Ao escolher ser religiosa, escolheu desligar-se do mundo, pelo menos aos olhos dos que separam Deus do homem, como quem separa o trigo do joio, escolhendo para si o que julgam ser a melhor parte. Mas, na prova dos nove, o que fica é esse esquecimento, esse alheamento, esse silêncio cortante de quem só levanta a voz quando já há vagas de fundo na maré dos dias. Todos somos culpados. E são coisas como esta que nos definem, enquanto sociedade. A mesma sociedade que, depois, não vota, não se define quando chamada a responder a referendos e passa a vida a debater questões, esgotando argumentos sem nunca chegar a uma conclusão que nos faça crescer.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *