Há algum tempo atrás, sentado nos degraus da escada de uma igreja, para os lados de Cinfães, vejo aproximar-se uma senhora, igual a tantas outras, com cara de avó e de quem vinha, sorridente, das suas orações ou da sua visita ao cemitério. Ao bom dia respondemos com o bom dia, ao que se segue a pergunta banal ‘de onde é?’. Resposta banal, ‘de Arouca’. E é então que surge a surpresa. ‘Se é de Arouca, tem de ler um livro muito bonito que se chama Testamento de Sangue. A história passa-se naquela região, e tem capítulos que falam sobre o Mosteiro de Arouca. Leia. Vai gostar muito.’ A semente da curiosidade tinha germinado, e só parou de crescer depois de encontrar o livro num alfarrabista. ‘Testamento de Sangue’, de Alberto Pimentel. Uma história de fidalgos e monges de Alpendurada, de amores e desamores, honras e lutas liberais, e de uma fidalga que cantava e encantava quem vinha rezar ao Mosteiro de Arouca. Mas, mais interessante do que o livro, foi a forma como ele se deu a conhecer. E isso, não se esquece.
Nestas agrestes paisagens deslizaram muitos dias da minha infância, – da minha mocidade também. Conheço-as, quero-lhes, como se pudessem entender-me as recordações que me despertam. Aqui eduquei eu o meu espírito na doce meditação das horas saudosas. Todas estas serras alcantiladas, que recortam o céu, hão-de guardar ainda no mais sombrio dos fraguedos o eco de uma trova minha
‘Testamento de Sangue’ – Alberto Pimentel