Se pensarmos bem, os amigos entram-nos pela vida dentro, na maioria dos casos, de uma forma inesperada, numa espécie de pé ante pé, para, depois, se instalarem quase como um alicerce. Ou uma raiz. Algo que, depois, faz surgir algo mais, é algo mais. E é, no final de contas, a amizade, que vem com a vida deles, com as vidas que geraram, com tudo o que acontece. Percebemos isso quando um metro de vida sorri, chora, tenta articular algumas palavras, começa a tentar dizer o nosso nome, partilha umas colheradas de gelado, ou desata a correr ao longo de um manto verde interminável, até um lago, onde molha as pontas dos dedos pequenitos e atira a água ao ar, para tentar que vá mais alta que o repuxo. É mais ou menos aí que percebemos que a amizade se instalou. De forma inesperada, pé ante pé, até começarmos a correr pelo verde imenso. Foi a partir desse momento que passámos a ser amigos.