O silêncio deve ser das coisas mais unânimes que existem. Shakespeare dizia que é preferível ser rei do silêncio do que escravo das palavras. Confúcio, que o silêncio é um amigo que nunca trai. Siro, nas suas sentenças, afirmava-se mais vezes arrependido por falar do que por estar calado. Séneca, que os desgostos da vida nos ensinam a arte do silêncio. É verdade tudo isto e muito mais. Às vezes, mesmo não sendo preciso procurá-lo. Ele instala-se. Afirma-se. Impõe-se. E espalha-se. E faz sentir o seu sabor. Que quase sacia, não fosse maior, uma vez ou outra, a vontade de dizer.
(Eugénio de Andrade: Rosto Precário)