Chegou o período a que habitualmente se chama «silly season». Basicamente, trata-se do Verão, das férias, de um tempo em que estamos (os que estamos) descomprometidos da rotina habitual, e, como tal, mais propensos ao inesperado, ao «fait divers», a coisas mais ou menos estapafúrdias. Este ano, temos um ingrediente acrescido: as eleições legislativas em Outubro, com as máquinas partidárias já devidamente oleadas, e prontas a disparar as balas do costume, com as acções e reacções habituais.
Este, que devia ser o tempo para nos desligarmos de um dia a dia que quase nos oprime, de um quotidiano acinzentado por vários factores, e nem todos culpa nossa, de dias justos e outros injustos, de gente muito boa e menos boa que connosco se vai cruzando; este, que devia ser o tempo para nos rendermos às fotografias (in)felizes (ou, pelo menos, disfarçadamente felizes) do facebook, com fundos de mar ou montanhas verdes e céu azul; este, que devia ser um tempo para nós, para não haver Grécia que nos desanime, ou políticos que nos envergonhem; este tempo não está a ser só nosso.
Se a representatividade que nos é proposta fosse funcional, talvez não nos fizesse grande diferença abdicarmos do único período em que podemos ser mais «silly» durante mais tempo (o Carnaval é outra altura, mas dura apenas dois ou três dias). Mas com a constante nuvem negra da corrupção a pairar sobre os políticos, não nos resta senão antever mais do mesmo, para os próximos tempos. Já nos começam a impingir «pseudo-escândalos» que poderão adensar-se, dependendo do sentido de voto da maioria dos portugueses. E quando o futuro se resume a mais do mesmo, sujeitar os momentos que deveriam ser exclusivamente nossos a estas lógicas é, no mínimo, injusto.
Quando o que de mais «silly» temos para desfrutar é uma espécie de campanha eleitoral em várias frentes, e não podendo ter a sorte programada de ganhar o Euromilhões, resta a esperança de que algo mude. Caso contrário, «silly» estaremos todos no decurso de mais um ano de trabalho. Penosamente. A implorar por um novo período de férias em que todos, sem excepção, possamos ser «parvinhos» em paz.