Fernando Pessoa é, talvez depois de Camões, o poeta português que mais profundamente falou de Portugal. Mas, sendo muitos, graças aos seus heterónimos, falou também profundamente de nós, da nossa essência, de como também nós somos um, mas muitos. Num desses «outros eus», Alberto Caeiro, escreveu que somos do tamanho do que vemos, e não do tamanho da nossa altura. Assim é. Somos do tamanho dos nossos sonhos, das nossas viagens, dos eus que vamos acrescentando ao nosso eu primeiro. E a esse eu primeiro, acrescentamos o verde dos campos e o azul do mar. A neve do norte, as montanhas do centro e o sol do sul. As músicas e os modos de falar de cada sítio por onde passamos. E daqui, do cimo da montanha de nós mesmos, vemos tudo isto. Que, afinal, somos, de facto, do tamanho do que vemos, e não do tamanho da nossa altura.