Não é para ser lido de uma golfada, mas também não é um livro que se deixe apenas na cabeceira. “O hipopótamo de Deus” é uma colectânea de pequenos textos do padre José Tolentino de Mendonça. Textos muito ao estilo das suas suculentas crónicas na “Revista” do jornal “Expresso”. Breves, mas com tempo e espaço suficiente para nos contarem uma história e ainda nos deixarem em que pensar. Assim é com “O hipopótamo de Deus”. Basicamente, o autor, ao estilo da filosofia, em que também é mestre, prefere as perguntas que procuramos e que podem ser certas, às respostas provisórias e muitas vezes erradas que encontramos. Como ponto de partida, tem uma passagem do livro de Job, em que Job se questiona e questiona Deus se vale a pena ser justo, mesmo quando toda a desgraça se abate sobre ele. Deus dá-lhe como exemplo o hipopótamo. Robusto, enrugado, forte. “A obra prima de Deus”. Ao olhar o hipopótamo, Job verifica que, mais do que remexer nas feridas, expô-las e compará-las com as dos outros, pode começar a tentar cicatrizá-las, olhando para o que de belo e forte existe, e que também é fonte de questionamento. E por aí adiante, lê-se e aprende-se muita coisa. Sobretudo a dar nome a muitas coisas em que já havíamos pensado, mas nunca tínhamos encontrado forma de as expressar. Os bons livros são assim.