Por estranho que pareça, apetece-me a chuva. Apetece-me, com tudo o que ela traz. Vontade de ficar em casa. Instinto de acender a lareira. Voltar a ligar o candeeiro de canto. Ajeitar o sofá. Esperar pelo crepitar da lenha. E abrir um livro. Um qualquer. Depois, viajar por aí. Dentro do livro, como dentro do vidro contra o qual podemos pôr a mão, e, de olhos fechados, sentir a chuva lá fora, sem sair. Apetece-me não me preocupar com nada a não ser deixar o tempo passar. O pensamento fluir. Não estar pensando em nada. Descansar de ser. Mas, para que tudo possa ser, para começar, apetece-me a chuva.