Quando Francisco Sá Carneiro morreu, eu ainda não tinha completado três meses de vida. Não senti a consternação da perda. Não conheci o percurso de vida, a acção política, a evolução do pensamento. Tudo isso, fui descobrindo. Lendo. Revendo. Revivendo. Aprendendo. Sá Carneiro passou pela vida com a velocidade e a força de um meteorito, deixando atrás de si um rasto de mudança, de força, muitas vezes de choque ou confronto com uma realidade que parecia custar cada vez mais mudar. Não acreditava na revolução, antes na mudança a partir de dentro. Tinha relutância em desistir das suas causas. Era convicto. Fazia o que fosse preciso, lutava até ao fim pelo que julgava ser o melhor. Hoje, em especial, toda a gente pergunta que país teríamos se não tivesse morrido. Seria, certamente, um país diferente. Mas não um país fácil, especialmente para personalidades como a sua. Muito provavelmente, as circunstâncias tratariam de afastar Sá Carneiro, como o fazem com tudo o que é incómodo. Como, de certa forma, já fazem, mesmo com o seu legado. Não sendo um homem grande, foi um grande homem. Não sendo um homem robusto, foi um homem forte. Hoje, ainda que ao de leve, irão lembrá-lo. Que aprendamos algo.